quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
O dia seguinte
O mundo amanheceu de ressaca, nesta quarta-feira. Uma ressaca cívica, pela festa que foi a posse do novo presidente estadunidense, Barack Obama. Por toda a esperança que ele representa, para os Estados Unidos e para o planeta: senão de dias muito melhores, ao menos diferentes do marasmo e da incompetência de seu antecessor. George W. Bush deixa a Casa Branca para entrar para o limbo da História, no rastro do maior atentado terrorista de que se tem notícia - por ora, enquanto os ataques israelenses não tomem proporções mais drásticas - e por mergulhar seu país numa recessão, a pouco mais de quatro meses de sair de cena. Carregando o mundo inteiro a reboque.
A nova primeira dama ostentava uma sóbria elegância, não menos do que o próprio astro principal, dando, até nisso, sinais de que outros tempos estão começando. (Ai, que tristeza, quando me lembro da nossa primeira dama...) Uma mulher que tem sabido pôr-se à altura do homem que conquistou não apenas eleitores, mas admiradores, pela vontade de mudar.
Mas... E a imprensa? Alardeou à exaustão o trunfo de Obama, como 'o primeiro presidente negro dos Estados Unidos', sem especificar se o trunfo era, afinal, ser presidente ou ser negro. Como se ser negro fosse diferente, melhor ou pior do que pessoas de outras origens, uma característica tão excepcional que digna de tamanho destaque. Como se não fôssemos todos, mundo afora, de uma mesma raça: a raça humana. Um ato - que julgo - falho, cometido por toda a mídia.
Enfim, esperam-se coisas boas para o futuro. Não milagres, mas ao menos bom senso. Não, talvez, unanimidade; mas mudanças verdadeiras, que resgatem valores e promovam um convívio mais digno entre povos e nações, uma vez que falamos de uma 'superpotência', como essa mídia gosta de tratar.
Um bom presságio, pois.
Boas Noites!
sábado, 17 de janeiro de 2009
Absolutismo tropical contemporâneo
Em visita a Maracaibo, o presidente Luís Inácio da Silva elogiou a possibilidade de reeleição infinita na Venezuela (leia-se, ao menos atualmente, de Hugo Chávez), embora pense que o mesmo não seria adequado ao Brasil em função da 'pouca experiência democrárica' do país.
Trata-se de mais uma manifestação - numa cadeia produtiva que vem se mostrando cada vez menos velada - da vontade de o Petê perpetuar-se no poder. Primeiro veio a história de Lula dizer não querer um terceiro mandato, sem que a possibilidade sequer lhe houvesse sido perguntada. Um balão de ensaio. Não por coincidência, foi a deixa para o deputado Devanir Ribeiro (Petê-SP) propor a segunda reeleição. Depois, vem a exposição intensa de Dilma Rousseff, figura sem maior destaque no cenário político, para torná-la íntima dos eleitores até o pleito de 2010. Como pano de fundo, desde o início do governo, tem o assistencialismo do Bolsa Família, que faz os beneficiados crerem que Deus é, de fato, brasileiro: tem barba grisalha, língua presa e um dedo a menos na mão esquerda. E tem ainda as 'pesquisas', que catapultam a popularidade do presidente a níveis próximos de 100%, quiçá em breve não ultrapassando essa barreira meramente matemática.
Dá para sentir, cada vez mais forte, cheiro de ditadura no ar. Não aquela que levantou o Brasil, conquistou a auto-suficiência em petróleo e tão mais fez, projetando-o no mundo por sua grandeza e pela capacidade de seu povo. Mas uma outra, perigosa, que se pauta no poder apenas como instrumento de doutrinamento ideológico, que visa a patrulhar indiscriminadamente os pensamentos e tornar o seu modo de ver as coisas a verdade absoluta. Com a qual se pode corromper e deixar-se corromper, sem a censura dos que ainda tenham retidão de caráter, sem a inconveniência da imprensa combativa e sem peso na consciência.
Boas Tardes!
quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
Quando a política é um caso de Polícia
Um criminoso italiano protegido a pedido do ministro da justiça. Marcos Valério e companhia soltos pelo STF. Sérgio Cabral rebolando funk em coreografia obscena. Os destaques políticos de hoje bem que poderiam estar melhor nas páginas policiais.
Cesare Battisti, um italiano que matou 4 pessoas (dentre elas um policial e um militar), teria cometido os delitos 'dentro de um contexto político', razão pela qual Tarso Genro decidiu-se por conceder o asilo. Uma transigência que o governo brasileiro não soube ter para com os atletas cubanos desertores durante os Jogos Pan-americanos em 2007: estes, cujo único crime foi desejar a liberdade, mereceram a deportação sumária. Que estranho interesse tem o ministro em proteger esse desconhecido?
Gilmar Mendes, sempre ele, põe mais um na rua. Aliás, mais quatro: Marcos Valério, o empresário pivô do escândalo do mensalão em 2005, seu sócio Rogério Tolentino e dois delegados da Polícia Federal, que estavam presos havia três meses. O habeas corpus ao grupo foi concedido na noite (ah, a noite...) de ontem, quarta-feira. Tudo contrariando orientações do próprio STF - que Gilmar preside - e em afronta a uma decisão proferida dois dias antes, por desembargadores do Tribunal Regional Federal de São Paulo. Não bastasse a atenção especial a Daniel Dantas, ainda tem mais essa.
E o Cabral, que descobriu o funk? Nos telejornais de ontem, era possível ver o governador fluminense praticamente reproduzindo, com extrema maestria aliás, a mesma coreografia feita pelo assessor de imprensa do Palácio do Planalto, Bruno Gaspar, depois do acidente com o avião da Tam, em julho de 2007. Foi na assinatura de um convênio com o Afroreggae - R$ 1,5 milhão para terminar obras do centro mantido pela entidade. Uma postura popularesca, que está longe de ser uma simples dança e que toma uma proporção mais patética ainda quando praticada por um governante que, supunha-se, de respeito.
Juro que não sei se são fatos para guardar ou jogar no lixo.
Boas Tardes!
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
887 x 13
O placar do jogo no Oriente Médio é acachapante: segundo O Globo Online de hoje cedo (os números devem ter aumentado, desde então), dos 900 mortos registrados no conflito entre Israel e meio mundo, começado às vésperas do Ano Novo, apenas 13 são baixas entre israelenses; 887 são do meio mundo. Entenda-se meio mundo como sendo os palestinos e demais vizinhos, envolvidos no barulho. E estamos ainda em 13 de janeiro.
Quase 50 mortos por dia em 18 dias: 2 por hora ou 1 a cada meia hora. Sendo pouco mais de 1% registrado no lado mais bem aquinhoado de recursos bélicos, armado pelo dinheiro que jorra de todos os cantos do mundo. Dinheiro que falta ao combate à fome, mas sobra para o combate ao próprio homem. Na briga de um só contra aqueles à sua volta, a propaganda defende que este um só é quem está certo. Como aquele soldado da anedota, que destoa de seu pelotão: os outros é que estão errados. Ou a mensagem falsa que, alardeada à exaustão, torna-se verdade.
Na ânsia de proteger seu território, Israel está semeando - em seu próprio e nos que lhe fazem fronteira, ao longo do muro da vergonha - um ódio sem precedentes, de futuro inimaginável. E parece ter sido assim desde 1948, quando o surgimento do país coincidiu com o advento dos Direitos Humanos, sem que um fato e outro tivessem travado mútuo conhecimento até hoje.
Na sexta-feira passada, uma manifestação nas escadarias do Palácio Pedro Ernesto - a Câmara Municipal do Rio, na Cinelândia - chamou-me a atenção. Um grupo fazia discursos e cantava, com faixas clamando pela paz, ostentando em destaque uma bandeira de Israel. Não pude conter o espanto e, então, perguntei a alguém que assistia: 'mas são os que matam os que pedem paz'?
As advertências da ONU são letra morta, ditada aos ouvidos de mercador do governo israelense. A Anistia Internacional, por seu lado, não demonstra, em relação a Israel, a mesma dureza no dedo que costuma apontar desrespeitos aos cidadãos de outras partes do mundo, especialmente na América Latina. Os Estados Unidos, historicamente defensores dos fracos e oprimidos, limitam-se a simplórios puxões de orelha, aguardando placidamente a política de Barack Obama para a região.
E o mundo segue pasmo, diante da violência gratuita que campeia do outro lado - para nós, felizmente do outro lado - do mundo. Um verdadeiro novo holocausto.
Boas Tardes!
terça-feira, 14 de outubro de 2008
O tamanho do nosso mundo
Suburbano: indivíduo que vive num subúrbio ou é natural dele; subúrbio: localidade próxima de uma cidade e que depende dela. Assim define o dicionário. No Rio de Janeiro, bairro tipicamente da Zona Norte, simples mas não necessariamente pobre, de casario baixo e gente que gosta de pôr a conversa em dia sentada em cadeiras de armar, na calçada, à porta de casa.
De repente, esse jeito suburbano tão carioca de viver virou arma de ataque de campanha, eivada de preconceito, vociferada pelo candidato Paes como se houvesse sido proferida por seu oponente com sentido pejorativo, exatamente em relação àqueles que a expressão define. Tipicamente artimanha estéril de quem parece não ter assuntos a discutir nem propostas a apresentar.
Este episódio é bem ilustrativo do antagonismo ideológico que as campanhas de Fernando Gabeira e Eduardo Paes mostram a seus eleitores. O cidadão do mundo, que vê o Rio de Janeiro como uma cidade também do mundo, grandiosa; e o síndico, sem demérito à função em si, cujos horizontes se restringem ao universo daquilo de que se propôs a tomar conta.
Talvez seja esta comparação a mais importante em que pensarmos, quando da decisão final do dia 26 de outubro. O tamanho do administrador que queremos para a nossa cidade.
Gabeira ousou tratar de 'desfavelização', tal como consta no portal oficial do candidato. Um tema tão delicado quanto necessário de abordagem, dada a notória relação da favela com a criminalidade e consideradas, também, as proporções que o problema atingiu nas últimas décadas. Falou ainda, no rádio e com a pertinente brevidade, da infância difícil e sem recursos, enfatizando que condena a glamourização da pobreza – uma tônica tão freqüente na propaganda eleitoral.
Por seu lado, Paes renega e renega seu padrinho Cesar Maia, com uma veemência e uma artificialidade que irritam o mais tibetano dos monges, escudando-se nos feitos de seu novo protetor, Sérgio Cabral, e esperando os votos que imagina ter com o apoio de Lula e da aliança de colcha de retalhos que vem sendo emendada dia a dia.
E vamos ver no que dão as pesquisas que vêm por aí, esta semana.
Boas Tardes!
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Depois dos apoios, depois do debate
Curiosa, a manifestação de apoio da candidata derrotada Jandira Feghali a Eduardo Paes, neste segundo turno de 2008 para prefeito do Rio. A ardorosa defensora do prestígio e da dignidade dos médicos – no que ela, como membro da classe, age como esperado – pode vir a ver-se na constrangedora situação de dividir o palanque com o destemperado governador Sérgio Cabral. Ninguém (ninguém?) esquece a bravata de Sua Excelência, perturbado com o absenteísmo de médicos no plantão do Hospital Getúlio Vargas, na Penha, semanas atrás e em plena campanha, chamando os faltosos de 'vagabundos' e 'safados'.
(Consta que o sindicato dos médicos vinha levantando as faltas do governador às sessões plenárias do Senado Federal, onde Cabral atuava antes de assumir o governo fluminense e supunha-se que ele estivesse defendendo os interesses do Estado do Rio de Janeiro. Para dar um troco.)
Fato é que o candidato do PMDB parece não ter-se saído muito bem em seu novo confronto de idéias com Fernando Gabeira, no segundo debate depois de 5 de outubro e já com as pesquisas invertendo a tendência de votos. Na opinião dos leitores do Globo, tanto no evento do próprio jornal, há uma semana, quanto ontem, na TV Bandeirantes, Canal 7, o candidato do PV teria tido desempenho muito melhor do que Paes, na proporção de quase 80% contra menos de 20%.
Senões há, de minha parte, a um e ao outro candidatos. Mas o anseio de mudança por parte dos cariocas e a irrefreável vinculação que Eduardo Paes faz de sua imagem a Sérgio Cabral e a Lula, à beira de sugerir que ele seja, em vez de candidato, cabo eleitoral de um dos outros dois, vêm desgastando paulatinamente a sua própria imagem. Até pela insistência de que seja preciso ser amiguinho do governador e do presidente da República, para garantir recursos à cidade.
O Rio de Janeiro nunca foi subserviente ao poder central (leia-se Brasília), motivo pelo qual tantas vezes, foi prejudicado por quem o comandava. Contudo, o que se deve esperar do novo prefeito é, ao contrário de uma política de boa vizinhança que aproxima-se da bajulação, uma postura de independência, que reflita a autoridade que a cidade mais importante do Brasil e o seu administrador verdadeiramente possuem.
Bons Dias!
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