P Á G I N A S

domingo, 26 de novembro de 2023

Marimbondos em fúria

O Estado Democrático de Direito, no Brasil foi impiedosamente estuprado, pela mais alta corte do país. E a revelação foi feita, na cara limpa, pelos próprios estupradores, sem medo de reprimenda! Mordida com a votação do Senado Federal, a favor do fim da farra das decisões monocráticas dos todo-poderosos do SFT, a corte se rasgou em autêntica fúria uterina e decidiu partir para o ataque, contra o parlamento e até o próprio Executivo, soltando a língua sem o menor pudor e entregando o esquema da lua de mel que, até então, vigia na tal harmonia entre os poderes da República.

O lembrete dos homens da capa preta, a quem quisesse ouvir, foi claríssimo: Lula só é presidente graças ao empenho do Supremo para que isso pudesse acontecer. E haja empenho! Coisa que todo mundo já sabe, mas os canhotas não têm capacidade intelectual nem moral de perceber e os isentões - aqueles que não votam nem saem de cima - fingem que é algo que não lhes diz respeito ou não os atinge. Afinal, para esses dois contingentes de néscios, 'o importante é que tiramos o Bozo, que fala palavrão'.

Primeiramente, gênese da atual desgraça brasileira, houve a descondenação, a dádiva de Fachin, graças ao expediente da canetada monocrática que comprometeu todo um processo por 'erro de CEP', ou seja, pela pretensa incompetência do juízo de Curitiba de tocá-lo adiante. Toda uma investigação, de milhares de páginas, respaldada por inúmeras provas, delações, confissões e incríveis devoluções de vultosas quantias roubadas do erário, jogada no lixo pelo ato voluntarioso de um único ser, supremo, que assim achou de tratar o assunto.

E olha que o Cristiano Zanin, premiado por Lula com uma vaga na corte, cansou-se de, na época em que era causídico do descondenado, reclamar do Supremo que o foro de Curitiba não era o indicado, sendo seu apelo neste sentido seguidamente rejeitado. De repente, após diversas tentativas, sabe-se lá por que, o argumento vingou. Por mera casualidade, bem a tempo e no timing certinho de fazer com que o processo sofresse a reviravolta salvadora.

Com a canetada de Fachin, veio então a devolução dos direitos políticos ao ex-presidiário, habilitando-o ao status de candidato e de homem solto (não livre), propenso, inclusive, a um casamento, como convém a um postulante à presidência. Nesse ponto, a militância de redação entrou em campo, junto com os institutos de 'pesquisas', dando ao ungido os píncaros da preferência dos eleitores. Que, curiosamente, não eram vistos nas ruas nem nos eventos de acesso controlado aos quais o descondenado comparecia, cercado da sua claque. Mas existiam... Ao menos nos computadores dos fazedores de enquete.

E, fechando o cerco e o circo, a cereja do bolo: a armação ilimitada das eleições, num conluio sem precedentes para, ao mesmo tempo, minar a campanha de Jair Bolsonaro com toda sorte de mentiras e constrangimentos e, o mais importante, turbinar as urnas eletrônicas com os votos saídos do imaginário da esquerda e, claro, do código-fonte, ao qual nem a Deus foi dado acesso. (Ao contrário, parece que aos emissários do concorrente Dele, acesso irrestrito teria sido concedido.)

Agora, após a aprovação do Senado, a pressão segue em altíssimo grau e deve se exercer sobre a Câmara dos Deputados. Na esteira desta iniciativa de controle sobre os abusos da suprema corte, deve vir também a limitação do tempo de mandato dos ministros do STF em quinze anos. Hoje, o cargo é vitalício e um jovem escolhido para exercê-lo pode chegar a ficar três décadas no tribunal, considerando a aposentadoria compulsória aos longínquos 75 anos.

Assim, está nas mãos do Senado Federal a chance de corrigir duas perigosas distorções do modus operandi do Supremo: a possibilidade de apenas um magistrado, sozinho, um ser não escolhido pelo povo, invalidar a decisão expressa por 594 parlamentares eleitos pela vontade popular (81 senadores e 513 deputados federais); e o surgimento de vícios de atuação, em meio a um grupo que não se recompõe e, pior do que isso, tende a consolidar uma influência cada vez mais perniciosa ao funcionamento de um Poder Judiciário cujos ares não se renovam.

Com toda essa efervescência, o STF é, hoje, uma panela sob pressão, prestes a explodir.

A primeira necessária correção de rumo já foi deflagrada. Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, ao dar andamento à PEC que contém o ímpeto do STF em usurpar atos do parlamento, fez a coisa certa, embora, especula-se, pelo motivo errado. O estímulo à 'afronta' ao Supremo, na forma como os ministros estão entendendo o ato, seria a desconsideração do nome do senador, por Lula, como candidato à vaga deixada por Rosa Weber na corte. Sem figurar entre os preferiti e com pouca chance de se reeleger ao Senado em 2026, Pacheco considerou ser o momento de deixar de bancar o bicho-preguiça (com quem mantém uma certa proximidade fisionômica) e partir para o confronto que os brasileiros aguardam há tempos.

Esta é a tal 'traição rasteira' que o jornaZismo denunciou à nação: estão mexendo com quem não se deve mexer. Puseram o cara no palácio e isso tem um preço (que não deve ser barato). Se atacarem os que concederam essa benesse, a fatura será cobrada, com todos os acréscimos que couberem. Assim mostram as bravatas e os chiliques que vêm surgindo, aqui e acolá, da parte dos homens de toga. O decano Gilmar Mendes, de timbre vocal cada vez mais grave, se arvora em porta-voz e fala, aparentemente e de forma ameaçadora, por todos os demais.

Embora plenos de poder, as supremas criaturas foram retiradas de sua zona de conforto. Os supremos nervos estão à flor da pele. E o ativismo político, que é tipificado como crime pela Constituição que eles juraram defender, continua sendo o exercício mais frequente dos encastelados do suntuoso palácio do lado sul da Esplanada.

São Paulo foi às ruas hoje, contra os abusos dessa gente. Mais brasileiros haverão de se insurgir contra o vilipêndio da verdadeira democracia. E os castelos agonizarão e ruirão, até a vitória do Brasil sobre os seus detratores.

Que Deus esteja conosco!