P Á G I N A S

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O teatro político: chorar, rir e assistir a velhas peças


Não sei se rio do drama ou choro, pela comédia. Alguém viu a nova dupla sertaneja Ciro e Dilma, distribuindo sorrisos na caravana do PAC pelo nordeste, esta semana? Ambos foram a reboque de Lula, a visitarem as obras de transposição do Velho Chico. Dizem, aliás, línguas que não sei se más ou boas, que nossa excelência gosta mesmo é de outro velho... O Barreiro. (Até a garrafa é coisa fina, lembra o slogan.)

Falando nele, o 'filho do Brasil' (será 'do Brasil' mesmo?) aguarda, ainda, o lançamendo – em 2010 – do filme que conta sua biografia. Forte concorrente aos prêmios de melhor roteiro, com uma lacrimejante história de agradar o gosto do público mais popular; melhores efeitos especiais, de uma pirotecnia caprichada para um ano de eleições presidenciais; e melhor edição, primorosa, competente o bastante para deixar os escândalos sem holofotes e, seguindo a linha de conduta do protagonista, debaixo do tapete – qualquer tapete, até o vermelho. A respeito disso, vale ler o artigo de Solange Amaral no sítio do Democratas, em que a deputada ainda menciona o 'Vale Cultura' e suas implicações na divulgação da película.

...

E Alexandre Cardoso, federal da bancada fluminense, apresentando Romário, o mais novo filiado do Partido Socialista Brasileiro, alguém, por acaso, viu? O 'peixe', que parecia bem fora d'água, assinou ficha em 23 de setembro, inaugurando a primavera. Essa semana, foram veiculados anúncios curtos na programação noturna da televisão mostrando a filiação. Neles, o jogador manifesta o seu desejo, genérico, de 'ajudar as pessoas': todos os pollíticos dizem isso, mas sem especificar a que pessoas, especificamente, se referem. E Cardoso enfatiza que o Brasil está 'carente de ídolos', olhando para ele.

Tenham a santa paciência! Por enquanto, o portal do PSB identifica Romário apenas como 'militante', mas corremos o sério risco de tê-lo como candidato, em breve. Acho que aqui, o que eu faço é chorar. De puríssimo desgosto, ao prever o pior: o cara pode emplacar como alguma coisa, qualquer coisa, graças ao seu carisma. Em especial junto a um público eleitor não muito esclarecido e, exatamente por isso, facilmente influenciável pelo apelo de 'marketing' do baixinho.

Pois é.


Boas Tardes!

domingo, 29 de março de 2009

Golpe de sorte


Quarenta e cinco anos de história. Num dia 31 de março - há quem insista ter sido em 1º de abril, o Dia da Mentira - o Brasil espantou-se com a reação de seu povo e de suas Forças Armadas à tentativa de transformá-lo num país menor: de menos liberdade, de menos consciência política, de menos cidadania. Há muitos que viram na tomada do poder pelos militares, em regime de exceção, um ato pernicioso, tramado exatamente contra a liberdade e a cidadania, como uma afronta à consciência política que esses muitos julgavam ter. E é a forma como a história tem sido contada por eles. Os historiadores têm sido aqueles que foram atingidos, voluntária ou involuntariamente, pelas novas regras que o momento exigia então.

Talvez não haja um brasileiro sequer que não tenha em sua família ou no seu círculo de amizades um perseguido, preso ou exilado. Houve uma caçada implacável àqueles que os novos detentores do poder julgavam perigosos ao próprio governo e, no seu modo de ver, ao Brasil em si. Excessos aconteceram. Erros foram cometidos. Falhas houve, algumas graves, num sistema de grandes proporções cujo propósito era tão somente preservar um grande país, para garantir-lhe não um futuro, mas o futuro.

Contudo, um aspecto importante precisa ser lembrado a todo momento. Um sustentáculo que jamais poderá ser esquecido, seja pelas gerações que viveram 1964, seja pelos nossos filhos, a quem nos obrigamos a ensinar os fatos de modo imparcial e absolutamente responsável. Pouquíssimas - pouquíssimas mesmo - instituições nacionais podem provar tanto respeito, lisura e retidão de caráter para consigo mesmas e para com o Brasil, como as Forças Armadas. Bradem o que quiserem contra os militares: clamores pertinentes por justiça ou simples alaridos eivados de preconceito e rancor. Mas que não se ouse levantar uma única palavra de ataque à dignidade das corporações que a integram. Porque seria uma injustiça sem precedentes.

Maus profissionais há em todas as classes sociais e profissionais, mas não são eles o espelho em que seus membros se veem, nem a imagem que reflete honestamente sua condição. Ao contrário do que parece ter ocorrido com a maioria dos que pegaram em armas contra os militares, estes sofreram com a necessidade de se verem compelidos a irem de encontro a compatriotas seus. Porque tinham algo maior a defender: sua pátria. Nossa; de militares, de brasileiros e dos que cerravam punhos sem ideal bem definido. Pátria: um conceito que decerto não era compartilhado por uns tantos perseguidos, que professavam uma fé política quente, de forte tom avermelhado - alguns o fazem até hoje - e com inusitado fervor.

Até a deflagração da abertura política, em 1979, a história, contada pelos vencedores, era a versão do 'regime'. Depois disso, com o retorno dos exilados e autoexilados e com a 'constituição cidadã' de 1988, é deles, dos ex-perseguidos, a verdade absoluta dos fatos. Deles também é o direito de pleitear - e receber - as mais gordas indenizações de caráter político já pagas no Brasil, como reconhecimento por seus 'feitos heróicos' em prol da 'liberdade' e todo sofrimento que sua consumação pôde encerrar. O 'bolsa-ditadura', que tão bem foi definido pelo próprio povo. Um achincalhe a cada um de nós e, em especial, àqueles que trabalharam silenciosamente pela paz.

Se ainda é cedo para se falar sem emoções sobre tudo o que aconteceu no Brasil nos anos pós-1964, já deveria ser ao menos tempo suficiente para desnudar a máscara de vivos e mortos que ousaram se autoproclamar heróis de alguma coisa. E fazer baixar um pouco mais a poeira dos conflitos, revelando silhuetas mais bem delineadas por entre a natural bruma do passado. Fazendo, assim, justiça a quem a mereça. E condenando, minimamente ao limbo da História, aqueles que tentaram toscamente rasurá-la.

A verdade sempre prevalece. Mesmo que por puro golpe de sorte.


Boas Noites!

Pela luz dos olhos teus


A crise - a de decência, vivida pelo Brasil muito em função de seus homens públicos - é culpa de um pau de arara, pinguço, cotó e ignorante. Calma, que esse estilo não é meu! Só estou tentando definir Luís Inácio da Silva, o grande líder 'deste país', segundo o jeito de pensar e falar de si mesmo. Um logorreico que não mede o que diz, lançando suas palavras a microfones e holofotes como balas perdidas, iguais às que vêm assustando e matando nestes difíceis tempos, no Rio de Janeiro.

Fico imaginando se a crise econômica dessa temporada tivesse sido causada predominantemente por incompetência de instituições financeiras asiáticas, por exemplo. Nesse cenário, é provável que nossa excelência falasse de um 'perigo amarelo' assolando o planeta. Mas, se fossem pujantes conglomerados bancários africanos os responsáveis pelo caos instaurado, Lula, no auge de sua sensibilidade, talvez houvesse culpado os 'crioulos de cabelo ruim'. Ou não, já que, para ele, não existem banqueiros negros.

Acho que a tal 'hora do planeta', em que boa parte do mundo pôs-se às escuras, também aconteceu - mais uma vez - dentro do cérebro do nosso grande líder. Atacando indiscriminadamente os europeus e descendentes diretos, que se encaixam bem na definição de 'louros de olhos azuis', o presidente da República (nem gosto de me lembrar de que ele é isso...) foi tão preconceituoso quanto a forma como, debochadamente, começa este texto, ao se fazer referência aos nordestinos, dependentes de álcool, amputados e aqueles com baixo nível de escolaridade. Se a brincadeira do primeiro parágrafo, na hipótese de não entendida como tal, parece agressiva, imagine-se o que deve ter sentido o premier inglês Gordon Brown, ao ouvir a pedrada lançada por Lula.

Os assessores do Palhácio do Planalto bem que tentaram desconversar, procurando minimizar a bobagem dita e atribuindo-lhe um sentido diferente daquele que de fato teve e foi a pretensão da fala.

Que saudades eu tenho do Fernando Henrique! De sua postura, de sua figura e do tratamento respeitoso que ele conseguiu obter dos países estrangeiros em relação ao Brasil. Coisas que estão sendo postas a prova - ou a pique - com os desvarios dessa gente que hoje governa o país.

Aliás, falando na 'hora do planeta', não sei bem que tanta culpa devemos, os brasileiros, nos imputar em relação ao aquecimento global, a ponto de apagarmos as luzes por uma hora que seja. Nossa energia é quase toda limpa, proveniente de usinas hidrelétricas que movimentam um recurso natural tão limpo quanto: a água. Os automóveis aqui já usam o álcool hidratado em sua grande maioria, combustível de muito menor impacto no ambiente. Reciclamos mais de 95% das latas de alumínio consumidas, vá lá que menos por consciência ecológica do que por necessidade de sobrevivência. Enfim, estamos longe de ser os vilões da história e nossa contribuição à conta da destruição dos recursos da Natureza é bem menos expressiva do que a de países como os Estados Unidos e a China.

Por sinal, dentro do espírito do 'aqui se faz, aqui se paga', têm sido eles mesmos brindados com muitas das catástrofes 'naturais' recentes, consequências das atitudes de descaso tomadas para com o mundo. Levando outras gentes a reboque, é claro. Mas nós assinamos e respeitamos Kioto; e eles?


Boas Tardes!

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O dia seguinte


O mundo amanheceu de ressaca, nesta quarta-feira. Uma ressaca cívica, pela festa que foi a posse do novo presidente estadunidense, Barack Obama. Por toda a esperança que ele representa, para os Estados Unidos e para o planeta: senão de dias muito melhores, ao menos diferentes do marasmo e da incompetência de seu antecessor. George W. Bush deixa a Casa Branca para entrar para o limbo da História, no rastro do maior atentado terrorista de que se tem notícia - por ora, enquanto os ataques israelenses não tomem proporções mais drásticas - e por mergulhar seu país numa recessão, a pouco mais de quatro meses de sair de cena. Carregando o mundo inteiro a reboque.

A nova primeira dama ostentava uma sóbria elegância, não menos do que o próprio astro principal, dando, até nisso, sinais de que outros tempos estão começando. (Ai, que tristeza, quando me lembro da nossa primeira dama...) Uma mulher que tem sabido pôr-se à altura do homem que conquistou não apenas eleitores, mas admiradores, pela vontade de mudar.

Mas... E a imprensa? Alardeou à exaustão o trunfo de Obama, como 'o primeiro presidente negro dos Estados Unidos', sem especificar se o trunfo era, afinal, ser presidente ou ser negro. Como se ser negro fosse diferente, melhor ou pior do que pessoas de outras origens, uma característica tão excepcional que digna de tamanho destaque. Como se não fôssemos todos, mundo afora, de uma mesma raça: a raça humana. Um ato - que julgo - falho, cometido por toda a mídia.

Enfim, esperam-se coisas boas para o futuro. Não milagres, mas ao menos bom senso. Não, talvez, unanimidade; mas mudanças verdadeiras, que resgatem valores e promovam um convívio mais digno entre povos e nações, uma vez que falamos de uma 'superpotência', como essa mídia gosta de tratar.

Um bom presságio, pois.


Boas Noites!

sábado, 17 de janeiro de 2009

Absolutismo tropical contemporâneo


Em visita a Maracaibo, o presidente Luís Inácio da Silva elogiou a possibilidade de reeleição infinita na Venezuela (leia-se, ao menos atualmente, de Hugo Chávez), embora pense que o mesmo não seria adequado ao Brasil em função da 'pouca experiência democrárica' do país.

Trata-se de mais uma manifestação - numa cadeia produtiva que vem se mostrando cada vez menos velada - da vontade de o Petê perpetuar-se no poder. Primeiro veio a história de Lula dizer não querer um terceiro mandato, sem que a possibilidade sequer lhe houvesse sido perguntada. Um balão de ensaio. Não por coincidência, foi a deixa para o deputado Devanir Ribeiro (Petê-SP) propor a segunda reeleição. Depois, vem a exposição intensa de Dilma Rousseff, figura sem maior destaque no cenário político, para torná-la íntima dos eleitores até o pleito de 2010. Como pano de fundo, desde o início do governo, tem o assistencialismo do Bolsa Família, que faz os beneficiados crerem que Deus é, de fato, brasileiro: tem barba grisalha, língua presa e um dedo a menos na mão esquerda. E tem ainda as 'pesquisas', que catapultam a popularidade do presidente a níveis próximos de 100%, quiçá em breve não ultrapassando essa barreira meramente matemática.

Dá para sentir, cada vez mais forte, cheiro de ditadura no ar. Não aquela que levantou o Brasil, conquistou a auto-suficiência em petróleo e tão mais fez, projetando-o no mundo por sua grandeza e pela capacidade de seu povo. Mas uma outra, perigosa, que se pauta no poder apenas como instrumento de doutrinamento ideológico, que visa a patrulhar indiscriminadamente os pensamentos e tornar o seu modo de ver as coisas a verdade absoluta. Com a qual se pode corromper e deixar-se corromper, sem a censura dos que ainda tenham retidão de caráter, sem a inconveniência da imprensa combativa e sem peso na consciência.


Boas Tardes!

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Quando a política é um caso de Polícia


Um criminoso italiano protegido a pedido do ministro da justiça. Marcos Valério e companhia soltos pelo STF. Sérgio Cabral rebolando funk em coreografia obscena. Os destaques políticos de hoje bem que poderiam estar melhor nas páginas policiais.

Cesare Battisti, um italiano que matou 4 pessoas (dentre elas um policial e um militar), teria cometido os delitos 'dentro de um contexto político', razão pela qual Tarso Genro decidiu-se por conceder o asilo. Uma transigência que o governo brasileiro não soube ter para com os atletas cubanos desertores durante os Jogos Pan-americanos em 2007: estes, cujo único crime foi desejar a liberdade, mereceram a deportação sumária. Que estranho interesse tem o ministro em proteger esse desconhecido?

Gilmar Mendes, sempre ele, põe mais um na rua. Aliás, mais quatro: Marcos Valério, o empresário pivô do escândalo do mensalão em 2005, seu sócio Rogério Tolentino e dois delegados da Polícia Federal, que estavam presos havia três meses. O habeas corpus ao grupo foi concedido na noite (ah, a noite...) de ontem, quarta-feira. Tudo contrariando orientações do próprio STF - que Gilmar preside - e em afronta a uma decisão proferida dois dias antes, por desembargadores do Tribunal Regional Federal de São Paulo. Não bastasse a atenção especial a Daniel Dantas, ainda tem mais essa.

E o Cabral, que descobriu o funk? Nos telejornais de ontem, era possível ver o governador fluminense praticamente reproduzindo, com extrema maestria aliás, a mesma coreografia feita pelo assessor de imprensa do Palácio do Planalto, Bruno Gaspar, depois do acidente com o avião da Tam, em julho de 2007. Foi na assinatura de um convênio com o Afroreggae - R$ 1,5 milhão para terminar obras do centro mantido pela entidade. Uma postura popularesca, que está longe de ser uma simples dança e que toma uma proporção mais patética ainda quando praticada por um governante que, supunha-se, de respeito.

Juro que não sei se são fatos para guardar ou jogar no lixo.


Boas Tardes!

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

887 x 13


O placar do jogo no Oriente Médio é acachapante: segundo O Globo Online de hoje cedo (os números devem ter aumentado, desde então), dos 900 mortos registrados no conflito entre Israel e meio mundo, começado às vésperas do Ano Novo, apenas 13 são baixas entre israelenses; 887 são do meio mundo. Entenda-se meio mundo como sendo os palestinos e demais vizinhos, envolvidos no barulho. E estamos ainda em 13 de janeiro.

Quase 50 mortos por dia em 18 dias: 2 por hora ou 1 a cada meia hora. Sendo pouco mais de 1% registrado no lado mais bem aquinhoado de recursos bélicos, armado pelo dinheiro que jorra de todos os cantos do mundo. Dinheiro que falta ao combate à fome, mas sobra para o combate ao próprio homem. Na briga de um só contra aqueles à sua volta, a propaganda defende que este um só é quem está certo. Como aquele soldado da anedota, que destoa de seu pelotão: os outros é que estão errados. Ou a mensagem falsa que, alardeada à exaustão, torna-se verdade.

Na ânsia de proteger seu território, Israel está semeando - em seu próprio e nos que lhe fazem fronteira, ao longo do muro da vergonha - um ódio sem precedentes, de futuro inimaginável. E parece ter sido assim desde 1948, quando o surgimento do país coincidiu com o advento dos Direitos Humanos, sem que um fato e outro tivessem travado mútuo conhecimento até hoje.

Na sexta-feira passada, uma manifestação nas escadarias do Palácio Pedro Ernesto - a Câmara Municipal do Rio, na Cinelândia - chamou-me a atenção. Um grupo fazia discursos e cantava, com faixas clamando pela paz, ostentando em destaque uma bandeira de Israel. Não pude conter o espanto e, então, perguntei a alguém que assistia: 'mas são os que matam os que pedem paz'?

As advertências da ONU são letra morta, ditada aos ouvidos de mercador do governo israelense. A Anistia Internacional, por seu lado, não demonstra, em relação a Israel, a mesma dureza no dedo que costuma apontar desrespeitos aos cidadãos de outras partes do mundo, especialmente na América Latina. Os Estados Unidos, historicamente defensores dos fracos e oprimidos, limitam-se a simplórios puxões de orelha, aguardando placidamente a política de Barack Obama para a região.

E o mundo segue pasmo, diante da violência gratuita que campeia do outro lado - para nós, felizmente do outro lado - do mundo. Um verdadeiro novo holocausto.


Boas Tardes!