P Á G I N A S

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A máquina e o homem

 
O homem criou a máquina, termo geral, para fazer-lhe o trabalho penoso: insalubre, perigoso, demorado ou repetitivo. Percebendo a sua vocação para pensar e criar, delegou muitas de suas tarefas menos nobres a ela que, curiosamente, conferiu nobreza a esses encargos, graças à rapidez e à precisão de que são capazes, em níveis que não são próprios do seu inventor.

Mas há situações em que a máquina vence o homem. Por sua superioridade e por seu alcance. Pelo seu poderio avassalador, contra o qual ninguém pode. Como deu-se ontem, no segundo turno das eleições presidenciais no Brasil. A máquina, sob o domínio de um homem, elegeu Dilma Rousseff.

O aparato de propaganda mobilizado sem limites pelo governo federal fez surgir, de uma desconhecida e inexpressiva figura, a sucessora ungida pelo presidente-operário. O desdém de nossa excelência para com a legislação eleitoral - com a devida complacência da corte - e a manipulação da estrutura do estado-partido em favor da ascensão da dama de ferro pareceram acontecer sem maiores problemas. Junte-se à receita, então, o peso de uma estatal emblemática, tomada por pelegos em seus postos-chave, para fazer acontecer. Pronto.

O pai dos pobres fez da mãe do PAC sua herdeira política, na falta de outros nomes, impedidos por escândalos cuja abrangência infectou cada milímetro quadrado do Palácio do Planalto. Restou ao patriarca apontar, simplesmente, quem ele queria.

Com a massa acrítica de seguidores da seita obediente aos ditames do líder, faltava recrutar a outra, a massa de manobra, sempre à disposição e sem direito ao livre pensamento; de novo meros objetos de joguete eleitoral. Convencê-los seria fácil: uma casa fora da favela, uma palavra fácil... Uma mesada. Um preço módico a se pagar, para quem tudo tem à mão. E assim se fez.

E veio a votação consagradora. Ao menos desta vez puseram uma gente melhorzinha em aritmética, para formatar as pesquisas.

Mas o mais impressionante foi, noite passada, ver a imprensa cantar loas ao passado de Dilma Rousseff, como se a presidente eleita tivesse um currículo impecável, digno dos maiores estadistas realizadores ou de benfeitores incontestes da humanidade. Sua história de 'lutas', seus feitos enquanto guerrilheira, terrorista e subversiva, foram tratados pelas reportagens, em matérias já prontas de véspera, com uma estranha dignidade. Um tom quase enaltecedor, de provocar engulhos e cólica. Mais do que um deboche, um acinte às pessoas de bem que ainda há no Brasil. Muitas, por sinal.

Decerto eram conveniências da política de boa vizinhança, a melhor expressão para o disfarce do pavor de uma retaliação.

O início do terceiro mandato seguido do PT, desta vez (diretamente) sem Lula, faz com que os comentaristas políticos considerem que a oposição, posta a deitar em berço esplêndido na eternidade dos últimos oito anos, volte à ativa. Analisa-se que sua apatia - ou omissão, como queiram - deveu-se muito à figura mítica de Lula, contra a qual poucos ousavam se postar. Um quadro que a princípio muda de agora em diante, já que - presume-se, ao menos - o mito se vai.

Como ficarão os incontáveis escândalos, tráficos de influência, malversações do dinheiro público e as respectivas blindagens que vêm impedindo sua investigação e a devida punição, pela Polícia Federal e pela Justiça? Qual será o comportamento das instituições do Estado e dos novos donos do poder, diante da presumível manutenção do status quo que hoje protege os malfeitos da casta da estrela vermelha?

Enfim, um novo tempo se anuncia, ainda incerto, dado o aparelhamento que o estado já vive hoje, tendente a agravar-se. Incerto também pela indefinição dos partidos e políticos da oposição, que precisam retomar o papel que lhes cabe na fiscalização responsável dos atos de um novo governo, cujo código genético traz as piores referências morais jamais vistas antes na nossa história.

Apesar de tudo, desejo sinceramente que dias melhores venham para todos nós. E que a política brasileira seja de novo notícia, deixando o péssimo costume de frequentar as páginas policiais dos periódicos.


Boas Tardes!

domingo, 31 de outubro de 2010

Dia de decisão

 
Nasce o domingo - aproxima-se a uma da manhã - que sinaliza para a esperança de tempos melhores. Contrariando as 'pesquisas', dos mesmos institutos que subverteram a matemática e a estatística há pouco menos de um mês, mais uma vez visto azul e vou ao voto, na certeza de que a hora é mesmo de mudança. Meu olhar é para o futuro e meu interesse é pelo bom Brasil, o de todos nós, para todos nós.

É tempo de extirpar vícios e viciados, refinar os modos e pensar grande. Lembrar que as nossas cores são o verde, o amarelo, o azul e o branco. E que as estrelas de verdade são brancas, cujo brilho no céu da noite ilumina nossas almas e nossos sonhos, anunciando que o amanhecer de luz não tardará.

A hora é de virar o jogo a favor do Brasil. De pôr de lado cada interesse pessoal, menor, e ajudar no esforço pelo bem maior, que atinja a todos. Ampliar o horizonte de visão além do próprio umbigo, para poder enxergar a grandeza que somos como nação. Que temos uma História, capaz de nos dar a identidade brasileira tanto quanto de nos fornecer informações preciosas sobre como são a personalidade e a índole daqueles que nos pretendem governar.

É hora de mostrar o caráter que temos. Se temos senso crítico e memória. Se temos honra. E, acima de tudo, como fala a nossa autoestima e o quanto somos capazes de gostar de nós mesmos.


Bom Voto neste domingo e Boas Noites!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Vou vestir azul. Quem me acompanha?

 
Domingo próximo, dia 3, é dia de transformar o Brasil. E faremos isso, nós, 135 milhões de eleitores, munidos, por ora, necessariamente apenas de nossa Carteira de Identidade, já que duas das nossas mais altas cortes acabam de condenar o querido Título de Eleitor à mais absoluta inutilidade. Talvez devamos exigir, dos também 'queridos' magistrados do STF e do TSE, atestados de sanidade mental, para garantir-lhes o direito de voto em pleno gozo (ai!) de suas faculdades.

Domingo é dia de votar com a família: e não propriamente levando os parentes a tiracolo, mas com o espírito completamente voltado para essa mágica célula mater da sociedade, sem a qual tudo desmorona. Pensando na importância de alicerces como a harmonia que deve haver nas relações pai-mãe e pais-filhos; e na bênção que se constitui conceber filhos e ajudá-los a construir suas trajetórias de vida. No dever da transmissão dos valores que a imensa maioria das pessoas, embora possam até não o confessar abertamente, ainda tem como fundamentais à existência, calcados nos ensinamentos cristãos, como o Amor, a solidariedade, o respeito e a honradez.

Um escritor e editor estadunidense do século XIX, Henry Ward Beecher, muito sabiamente manifestou a seguinte impressão sobre a relevância da família: 'a coisa mais importante que um pai pode fazer por seus filhos é amar a mãe deles'. Se nós pudermos extrapolar o sentido e o alcance da frase, entendendo família como a sociedade – o que não deixa de ser verdade, se considerado que é seu componente de maior destaque – e a prática de amar na acepção fraternal do 'uns aos outros como Eu vos amei', teremos, decerto, um mundo melhor. E por que não exercer os bons valores aprendidos em casa também na rua? Desde crianças, somos treinados para isso. O problema é que, com o passar dos anos, vamo-nos deixando contaminar por outras referências vindas de fora do seio protetor familiar, muitas delas bem antagônicas em relação ao que aprendemos. E a força do exemplo, às vezes mau, induz a certos atalhos. Ou carreia, em definitivo, para errados desvios.

Pois é desses desvios que devemos fugir, no dia 3. Desses que vêm sendo vendidos a nós como aperfeiçoamentos éticos e morais da sociedade, na verdade nada mais do que aviltamentos de conquistas que nos custaram tanto sofrimento num passado recente. Sofrimento curiosamente infligido pelas mesmíssimas figuras que hoje detêm o poder e se autoproclamam baluartes incontestes da democracia.

Não quero o estado calando vozes discordantes, imiscuindo-se em conselhos de classe (jornalistas, artistas) sob o falso pretexto de controlar socialmente a mídia e proteger a sociedade de conteúdos eleitos indesejáveis. Não quero que lei ampare quem ceifa vidas ainda em formação no ventre, em nome da prerrogativa espúria do livre arbítrio sobre o próprio corpo.

Não quero me envergonhar do Brasil, assistindo a desmandos e trapalhadas pondo a perder tantas conquistas de gente que realmente trabalha e ama esta terra.

Não admito que crimes continuem sendo cometidos, sob as barbas das mais altas autoridades do país, sem que haja punição prevista em lei e, em havendo, sem que o poder judiciário (minúsculo, mesmo) se pronuncie, em proteção à sociedade – o que, mais que uma prerrogativa, é seu dever constitucional.

Quero vestir azul neste domingo e votar pelo progresso, material e moral, do povo do qual tenho orgulho de fazer parte. Quero banir toda a gente mesquinha inebriada de poder, que traz no sangue o rancor, o desprezo absoluto pelas mínimas regras de boa conduta moral e uma insaciável sede de vingança, jamais vista na nossa História.

Quero mudar o curso dos ventos que sopram sobre o Brasil, proporcionando a calmaria que merecemos para trabalhar por tempos melhores, de fartura e benquerença.

E quero arrastar comigo toda a multidão, por essa mesma causa.


Boas Tardes!

sábado, 25 de setembro de 2010

Vote no Brasil!

 
Estamos a uma semana das eleições. Época de consolidar as reflexões acerca daqueles em quem votar, de analisar o cenário político que se desenha e de aumentar a torcida por um Brasil melhor, confiando na capacidade e na honradez dos nossos escolhidos. Falta muito investimento no país: em saúde decente, numa educação realmente valorizada, na segurança pública, em infraestrutura para um progresso sustentável. Porém faltam coisas importantes como todas essas, sem as quais não poderemos conquistá-las. Coisas como respeito, honestidade, lealdade, ética, moral, disciplina, lisura, retidão. E, sendo verdades que o exemplo vem de cima e que ele arrasta, uma boa ideia é ascender ao poder gente que faça da prática desses valores sua filosofia de vida.

Algumas pessoas que não se alinham politicamente com a situação têm vivido o anticlima do 'já ganhou', pondo-se cabisbaixas ante os números das 'pesquisas' e se conformando com o 'já perdeu'. Dão a eleição como ganha, pelos adversários, antes da hora! Pensam que o seu voto pessoal não tem valor e não influenciará um pleito que sequer ocorreu e cuja lisura política sabe-se comprometida. Seja pelo massacre da máquina governamental para confeccionar a Barbie vermelha, capaz de angariar intenções de voto apenas pelo marketing de sua produção, seja pela matemágica das estatísticas embustidas nas enquetes que, não se surpreendam, podem fabricar milagres como amostras de homogeneidade perfeita e percentagens acima de cem.

A grita de números tão astronômicos de popularidade e intenções de voto, que a maioria da imprensa ajuda a amplificar, sem o pudor de uma avaliação mais criteriosa que não a deixe na condição de porta-voz acrítico de índices, parece-me servir basicamente a dois propósitos: impressionar bem os adeptos, criando o estímulo à conquista de mais votos (também impressionando mal os não-adeptos, ao incutir-lhes o pensamento de que tudo está perdido e nada é possível contra o atual estado de coisas); e prevenir um resultado desfavorável nas urnas, lançando - como é do feitio dessa turma - uma estrondosa suspeita de fraude, no caso de os números oficiais não baterem com a 'opinião pública', para usar o termo lembrado num dos recentes comícios também 'oficiais'.

Fatos novos, como as quebras de sigilo fiscal de opositores e a revelação de tramóias que já desconfiávamos existir nas entranhas palacianas, chegaram para dar um colorido a mais na campanha. E também para sacudir um pouco os algarismos, já um tanto viciados por uma escalada artificialmente turbinada, tão sem freios quanto as línguas dos ofídios que detêm o poder.

Para ficarmos num dos episódios mais recentes e bem ilustrativos, Lula reclama de ter sido traído por Erenice Guerra, a ex-toda-poderosa ministra da Casa Civil, ex-braço-direito (recém-amputado) da também ex-ministra Dilma, haja 'ex', forte concorrente a rainha do nepotismo do Planalto. Afora a autoconcessão pública de atestato de corno (político), o que nossa excelência faz, com uma declaração dessa ordem, é apenas uma retórica que inverte o sentido da história. Porque decerto ele não foi traído (duvida-se que ele não soubesse do exercício indiscriminado de tráfico de influência sob suas grisalhas barbas) e o que acontece agora é que Erenice é a traída: abandonada como cachorro sarnento, como é da índole da companheirada quando algum membro se torna um estorvo. Desprezada por seus outrora colegas de trabalho e de negociatas, de modo a não fazer respingar mais lama na candidatura oficial.

Mas que não se ignore o poder de que é capaz uma mulher desprezada: uma eventual ruptura do silêncio dessa ex-amiguinha de infância de Dilma Rousseff pode ser o que ainda falta para abalar de vez o claudicante prestígio do governo, do seu maior ícone, de sua protegida e de todos os planos de um lindo futuro, traçados para os próximos meses. Quantos escândalos ainda caberão em uma semana de páginas de jornal, na televisão e na grande rede? De quantas bravatas ainda será capaz nossa excelência, chaveirinho inseparável da candidata oficial, em pronunciamentos cada vez mais raivosos e que vêm se constituindo em verdadeiros tiros no próprio pé?

Dilma começou uma derrocada de índices, que sinaliza a realização de um segundo turno nas eleições para presidente da República. Vem despencando consideravelmente nas classes econômico-sociais que gozam de um maior discernimento político, de pessoas que acompanham o noticiário, possuem senso crítico e têm ascendência sobre seu círculo profissional e de amigos. Gente que consegue influenciar votos, mas não pelo apelo piegas do 'vote nele porque é meu amigo', ou pelo faz-de-conta da produção hollywoodiana, com seus photoshops incríveis e seus textos impecáveis. Consegue porque possui conhecimento, histórico, de atos e fatos que ajudaram a construir o caráter de um candidato e, de posse dessa bagagem informativa, exerce seu poder de convencimento com competência e imparcialidade.

Então, seguindo o protocolo futebolístico tão caro a nós, brasileiros: ainda tem jogo pela frente, o placar não está definido e podemos ter prorrogação e até disputa de pênaltis. A boa torcida não abandona seu time antes do final da partida. Ao contrário: se está difícil, empurra ainda mais os jogadores para a frente, dá-lhes incentivo e acredita na vitória. Todo mundo já passou essa experiência e sabe o valor de se ganhar, quando o resto do mundo é o adversário. E, ademais, desistir não é próprio do espírito do brasileiro.

Portanto, faça a sua parte e vote no Brasil!


Boas Tardes!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Pesquisando as pesquisas

 
Num domingo de Fla x Flu, Maracanã lotado, tarde ensolarada, Mengão no topo da tabela do Brasileiro distante oito pontos do segundo colocado e invicto há dez rodadas, dirija-se à torcida rubronegra e, lá, especificamente a um cidadão trajando o manto sagrado, ocupado em agitar a bandeira do clube com a mão direita e a segurar o radinho no ouvido com a esquerda. E faça-lhe a pergunta fatal: por que time você torce? Dá para imaginar resposta outra que não Flamengo?

Pois é. A metáfora futebolística, tão própria das divagações filosóficas de nossa excelência, ilustra bem as 'metodologias' dos 'institutos' de 'pesquisas', ao apurarem a 'preferência' do 'eleitorado' pela candidata situacionista. Permitam-me o excesso de aspas, mas elas são imprescindíveis à compreensão.

Vá a municípios administrados pelo Petê, em que o grosso da população tenha baixíssimo nível de escolaridade, aborde aquele sujeito que está junto ao caixa eletrônico prestes a retirar o pagamento do Bolsa-Família do mês, apresente-se com uma blusa na qual esteja estampada a imagem do presidente abraçado carinhosamente à sua candidata e fuzile: em que candidata (pergunte no feminino mesmo, para não parecer machista) você vai votar para presidente? Alguma dúvida sobre a resposta do abalizado eleitor?

Talvez agora você possa compreender um pouco melhor a avalanche de números que o vêm soterrando, nesses dias finais de campanha eleitoral.


Bons Dias!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

A pátria de chuteiras precisa jogar mais

 
Copa do Mundo 2010: o Brasil estreia, mesmo sem convencer de todo. É tempo de 190 milhões de conterrâneos deixarem aflorar seu patriotismo e exacerbá-lo sem limites. Que bom, se soubéssemos estocar parte desta vasta energia para exercer, com mais vontade e determinação, nosso direito a um futuro, em 3 de outubro. Mas, até lá, sendo hexacampeões ou não, o clima já terá esfriado – o futebolístico, já que será primavera e o calor se fará sentir, no termômetro e na campanha eleitoral, que promete...

Os brasileiros temos um grave problema, que vem-se arraigando, infelizmente. Trata-se de uma certa vergonha do nosso patriotismo e, a reboque dele, do nosso poder de transformar o país. Culpa dos anos de regime de exceção, porém não diretamente do militarismo, mas daqueles que, por sua visão curta e ausência de princípios morais, deram causa ao movimento de reorganização política que se fez necessário àquela época.

Os ampla, geral e irrestritamente anistiados, exilados ou auto-banidos, muitos dos quais hoje no poder, regurgitando ódio e revanchismo, são, a meu ver, os culpados disso. Porque, num primeiro momento, 'perseguidos' eles acusavam todos que exaltassem os símbolos nacionais – a bandeira e o hino, mormente – de serem simpatizantes do autoritarismo (mais do que do governo). E depois, repatriados, passaram a usurpar esses mesmos símbolos como se fossem propriedade exclusiva sua, já que autoproclamavam-se os verdadeiros patriotas.

Então, tivemos uma vergonha inicial da pecha de 'alienados políticos que coadunavam com o poder', na forma como os 'injustiçados' preferiam dizer, para, em seguida, emendar uma vergonha posterior, certamente maior do que a primeira, de sermos iguais a eles, que enxergamos como párias. E deixamos a bandeira nacional e as margens plácidas do Ipiranga para alguns poucos momentos, como o campeonato mundial de futebol. Uma lástima. Contudo também um estado de coisas que não podemos perpetuar.

Precisamos levantar a cabeça, não somente para vibrar com os gols da seleção canarinho, mas também para perceber quão grande somos, como povo e como nação. Que temos muito trabalho a fazer, para pôr o Brasil em ordem, buscando nosso bem-estar e cobrando dignidade dos homens públicos, na administração daquilo que é nosso – deles, inclusive. Sem que nos esqueçamos de praticar essa mesma dignidade, nos nossos menores atos do dia-a-dia.

Precisamos ter consciência de que vivemos tempos perigosos, em termos de ameaça de violação das liberdades que nos custaram tanto sofrimento. Que há inúmeros aproveitadores, lobos em pele de cordeiro, que falam de democracia, direitos, benesses e outras coisas mais, embora estejam tramando, nas alcovas e catacumbas, um golpe tenebroso contra o país. Uma trama especialmente perigosa, por conter um sentimento latente de vingança, ora já indisfarçável, que vem escorrendo por entre os lábios da campanha eleitoral da situação.

Precisamos alijar do poder aqueles que se querem nele perpetuar, freando a máquina corruptora que lhes tem garantido recursos sempre abundantes e com a qual vêm comprando, a preço de saldão, a tudo e a todos.

Precisamos acordar do sonho do Brasil grande, bonito, que muito acalentamos mas que deixamos sempre para depois, para arregaçar as mangas e fazê-lo acontecer de fato, agora! Tanto quanto é urgente despertar do pesadelo do brasil (minúsculo) corrupto, que vem gradualmente lançando seus tentáculos a partir do planalto central, acuando nossos homens de bem, calando nossos gritos de angústia e sepultando precoce e cruelmente nossa esperança de futuro.


Bons Dias!

domingo, 25 de abril de 2010

Chifre em cabeça de porco


Para guardar e lembrar, quando se estiver teclando o voto no dia 3 de outubro. A coordenação de campanha do Partido dos Trabalhadores (candidata Dilma Rousseff) e a alta direção do PT pressionaram a Rede Globo de Televisão a tirar do ar a peça publicitária comemorativa de seus 45 Anos, que se festejam nesta segunda-feira (26). Feita bem no estilo petista, a pressão deu-se por meio de postagens terroristas em blogues, iniciadas pelo coordenador de internet da campanha de Dilma, Marcelo Branco. Ele, motivando depois outras manifestações de simpatizantes da candidata e de pessoas ligadas ao partido, denuncia que a alusão ao número 45 (que é o registro do PSDB no TSE), e à mensagem com a tônica 'queremos mais' (acusada de semelhante a 'O Brasil pode mais', mote da campanha de José Serra, adversário de Dilma à presidência) constituiriam propaganda subliminar do candidato tucano.

Para não criar polêmica, a Globo decidiu suspender sua campanha publicitária - criada em novembro de 2009, antes de qualquer definição sobre candidaturas e slogans de campanha - logo na terça-feira passada (20), um dia depois de iniciada a veiculação. A cúpula do partido teria ligado para a alta direção da emissora para reclamar, segundo apurou a Folha de São Paulo.

Depois da divulgação da nota da Rede Globo comunicando a suspensão e quando questionado acerca das acusações, Marcelo Branco baixou o tom e desconversou, alegando que não poderia ser taxativo quanto às denúncias que fez e que estaria 'apenas' disseminando informações de que 'várias pessoas' estavam dizendo aquilo.

A Globo, infelizmente, preferiu deixar-se censurar. Curioso é o denunciante não lembrar, isto sim, o longametragem 'Lula, o filho do Brasil', previsto para ser exibido em caminhões-cinema pelo país neste ano de eleições, como descarada campanha em prol da candidata petista, apoiada no sentimentalismo suscitado pela história (maquiada) do padrinho, que insiste em lançar seu nome aos quatro ventos em qualquer inauguração de bica d'água. O filme é produzido com a ajuda de recursos oficiais.

No desespero da perspectiva da perda do poder, com Dilma Rousseff comportando-se extremamente mal em entrevistas e aparições em público, o PT resolve enxergar chifre em cabeça de porco e recorrer àquilo que vem apregoando há tempos em seu modus governandi: a censura indiscriminada, travestida de acompanhamento editorial de cunho democrático, especialmente quando as informações que circulam afetam, de algum modo, seus interesses. Pena que os que tanto gostam de lembrar os 20 anos pós-1964 como ditadura não consigam associar, por ignorância ou conveniência, as ações do partido-governo com o tipo de governo-partido que os petistas pretendem para o Brasil.


Bons Dias!

quinta-feira, 18 de março de 2010

O novo golpe de Ibsen


Inconformado com a repercussão da passeata de ontem (17), em que mais de 150 mil pessoas protestaram contra a Proposta de Emenda à Constituição que nega ao Estado do Rio o recebimento dos royalties do petróleo, o deputado Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) segue em sua verborragia. Sem esconder o sorriso irônico, desdenhou a manifestação desta quarta-feira, dizendo que 'nem toda a passeata é do bem'. Sustentou o argumento, lembrando o apoio da população carioca à tomada do poder pelos militares em 1964; e o protesto contra a vacinação obrigatória, comandada por Oswaldo Cruz em 1904 na então capital federal. Está tentando pôr fim à polêmica valendo-se, de modo ardiloso, da menção ao controverso episódio da repressão dos anos 60, acreditando num impasse: para ser contra-atacado na referência a uma pretensa 'passeata do mal', é preciso defender o 'golpe', coisa que poucos teriam coragem de fazer. Misturou, enfim, alhos com bugalhos e cometeu uma nova injustiça, revelando-se cafajeste com os cariocas – o Rio tem sido, historicamente, palco de grandiosos atos em defesa do país – e com as Forças Armadas.

A Revolta da Vacina aconteceu em função do desconhecimento e do temor da população do início do século XX, que foram insuflados pela imprensa da época, também contrária à iniciativa. Não demorou muito para que os jornais fizessem sua mea culpa, admitindo a absoluta impropriedade de se voltarem contra as medidas profiláticas adotadas pelo sanitarista.

A intervenção militar de 1964, tratada tanto como 'revolução' (pelos que a apoiaram) quanto por 'golpe' (pelos adversários), foi festejada, assim que consumada, pela maioria da população do Rio de Janeiro. Jornais e revistas, que vinham acompanhando a degeneração da democracia brasileira desde a renúncia de Jânio Quadros, em 1961, documentaram a gradativa perda da autoridade do presidente João Goulart (Jango), cuja inabilidade política, aliada à insuflação generalizada contra a ordem constituída, promovida por setores da esquerda, estava por permitir a transformação do Brasil numa república comunista. Insuflação essa, registre-se, perpetrada por nomes que ficaram para a história recente do país como grandes socialistas, defensores do estado democrático de direito e, sobretudo, pobres vítimas da arbitrariedade e da intolerância do governo, alijadas de seus direitos cidadãos.

Foi em nome da restauração da ordem e da preservação dos valores mais caros ao povo brasileiro, que as pessoas estenderam lençóis brancos em suas janelas, jogaram papel picado às ruas e promoveram um verdadeiro carnaval fora de época, na virada chuvosa de 31 de março para 1º de abril de 1964. A tomada do poder, naquele momento específico, era absolutamente necessária para conter o avanço da influência trotskista no Brasil, e salvaguardar instituições cujas bases vinham sendo solapadas por um processo daninho de insurgência. Entre elas, parte das próprias Forças Armadas.

Hoje, o deputado, que tem em seu currículo o voto casuístico a favor da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, o imposto do cheque), quer beneficiar-se eleitoralmente à custa do trabalhador fluminense, lesando o Estado do Rio em recursos que são seus por direito, garantidos pela Constituição que agora faz rasgar. Quer fazer nítida cortesia com o chapéu alheio, sob o pretexto de estabelecer justiça fiscal e redistribuição de riqueza.

Se juntarmos a isso a postura pilática de Lula, que – mais uma vez – esquivou-se de agir e mandou o Congresso resolver o babado dos royalties, vamos perceber que Ibsen vai, homeopaticamente, fazendo o favor de demolir a candidatura governista à presidência.


Boas Noites!

quarta-feira, 17 de março de 2010

Obrigado, Ibsen


O tiro contra o Estado do Rio, desferido do planalto central pelo deputado Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), parece ter saído pela culatra e ricocheteado várias vezes, com efeitos surpreendentes. Pior a emenda que o soneto, para lembrar o dito popular. Sua Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que subtrai dos fluminenses recursos substanciais, oriundos do pagamento de royalties pela exploração do petróleo existente na Bacia de Campos, é a unanimidade – ou quase isso – da vez. Iniciativa oportunista, surgida do nada em pleno ano eleitoral, até hoje não encontrou, além do próprio proponente, defensores entusiásticos: há os que são visceralmente contra, os que são apenas contrários e os que preferem se omitir a respeito, alegando não terem opinião. Não vi quem quer que seja esbravejando, com a ênfase com que o governador Sérgio Cabral atacou a emenda, a favor dessa nova sandice.

Os políticos brasileiros em geral, em sua imensa pequeneza, tendem à fórmula simples de Robin Hood. Atacam os ricos, como se pecado fosse sê-lo, para arrancar deles o 'excedente' que acham que deveria ser dividido com os pobres, em vez de proporem a criação de novas riquezas, capazes de tornar os pobres não-pobres, mantendo os ricos como estão. Porque dividir o que não lhes pertence é mais fácil, além de render preciosos dividendos nas urnas.

E nesse jogo de perder ou perder, nós, cariocas, somos escolados. Há quase um século e meio. Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, gaúcho que fez história no Rio de Janeiro, nos dá, talvez, a primeira boa mostra disso. Penou para trazer desenvolvimento para o Brasil e, em especial, para a capital do império, tendo sido severa e seguidamente sabotado pelo ciúme do próprio imperador, que talvez se visse diminuído ante a audácia das iniciativas de Mauá. O barão fundou o primeiro Banco do Brasil (que era privado e faliu, sabotado por manobras tramadas na corte de Dom Pedro II), o primeiro estaleiro (Ponta d'Areia, na vizinha Niterói) e a companhia de gás (cujo uso, inicialmente, voltava-se para a iluminação pública), só para começar. Um vulto que deveria ser cultuado por todo brasileiro, como exemplo de patriotismo e empreendedorismo.

Nossa Majestade preocupava-se muito mais em agradar os senhores de engenho do interior fluminense, que lhe sustentavam – literalmente – o poder, promovendo um término mal planejado para a era escravagista, sem a necessária transição dos antigos escravos para a condição de cidadãos com formação profissional, emprego, salário e moradia. Esse despreparo, apesar dos 38 anos entre a proibição do comércio de negros e a Lei Áurea, que permitiam muito mais do que as leis do Ventre Livre e dos Sexagenários, custou a sobrevivência do regime, que caiu um ano e meio depois. A República vinha com o Estado do Rio assistindo ao declínio de seus engenhos sem escravos, e São Paulo fomentando suas lavouras com mão-de-obra estrangeira assalariada.

Fomos perder, de novo, em 1960. A mudança da capital para Brasília, sob o pretexto de interiorizar o Brasil, foi uma punhalada que, até hoje, 50 anos depois, ainda dói nas costas dos cariocas. Só não nos avisaram que a transferência era também para escamotear a corrupção – que daria muito na vista no Catete, na Cinelândia e na Praça Quinze – e propiciar o surgimento de novos ricos, financiados pelo fornecimento de bens e serviços para a construção de um novo mundo a toque de caixa (registradora?).

Em 1975, foi a fusão. O casamento forçado entre a menina rica (a Guanabara, cidade-estado em que se transformara o Rio de Janeiro) e o fazendeiro pobre (o antigo Estado do Rio, capital Niterói, cuja herança política, bem maldita, vimos carregando nesses 35 anos), com mais perda de prestígio político e de recursos financeiros. Mesmo com o advento do petróleo, já que havia uma receita de impostos estaduais que a atual capital não dividia com ninguém.

Vem então o conterrâneo de Getúlio, para vilipendiar mais um pouco, a título de ser o bom velhinho de milhões de brasileiros, agraciados com o fruto do trabalho de muitos de nós e dos impactos ambientais que se dão bem longe do espelho d'água do Congresso Nacional. Curiosamente, não se propôs dividir a riqueza dos minérios produzidos em Minas Gerais ou no Pará; nem as benesses da indústria automobilística de São Paulo. Mas querem meter a mão no petróleo do Estado do Rio...

E sabe o que mais? Vamos, enfim, ao que de bom essa história pode oferecer. A Emenda Ibsen conseguiu uma união improvável, de forças, na intrincada malha eleitoral fluminense. Trouxe Rosinha Matheus, ex-governadora e mulher do também ex, Garotinho, para apoiar Sérgio Cabral. Garotinho e Cabral são virtuais concorrentes ao governo do estado em outubro, quando o atual governador tenta a reeleição, e não mantêm relação de cordialidade. Apesar disso, Rosinha e Cabral deram-se as mãos na Avenida Rio Branco, na passeata que reuniu cerca de 150 mil pessoas, debaixo de chuva forte, 'contra a covardia' – como os organizadores chamaram a marcha.

Viam-se bandeiras de vários partidos na manifestação: PMDB, o dono da bola, partido do governador; PSDB, PDT, PV e PC do B, entre outras. Mas uma ausência chamava a atenção: nenhuma bandeira do PT e nenhum militante com a estrela vermelha. A UNE, por sua vez, tão bem domesticada por Lula nos últimos 8 anos, providenciou um bandeirão (na verdade, nem tão 'ão' assim), para não dizer que deixou de comparecer. Mas sem as bravatas e histrionismos de costume. Essas ausências (pode-se, tecnicamente, incluir aí a União Nacional dos Estudantes) são, na verdade, uma clara postura de omissão. O não tomar partido, para não se comprometer.

E como não? Por que será que, em meio a essa crise dos royalties, com uma possibilidade de decisão em vias de cair em seu colo, Lula terá tirado da cartola um importante conclave diplomático na República da Conchinchina? A postura de avestruz haverá de ser um tiro no pé, certeiro, na boca de começar a já começada campanha de Dilma Rousseff à presidência. Com Serra tirando enorme proveito do fato, rompendo o silêncio e saindo em defesa do Rio e do Espírito Santo, reforçando a tese da quebra dos dois estados sem os recursos que querem tungar.

Por tudo isso, como carioca que ama e preza a terra, resta-me sugerir ao deputado Ibsen Pinheiro uma reflexão sobre uma pequena frase, curiosamente o lema do Estado do Rio de Janeiro, escrito na bandeira do RJ: 'administrar a coisa pública com retidão' – 'recte rempublicam gerere', como está lá, em latim.

E agradecer-lhe, pelo belíssimo estrago que ele está ajudando a consumar, em coisas que vêm mesmo demandando serem destruídas.


Boas Noites!