P Á G I N A S

quarta-feira, 16 de junho de 2010

A pátria de chuteiras precisa jogar mais

 
Copa do Mundo 2010: o Brasil estreia, mesmo sem convencer de todo. É tempo de 190 milhões de conterrâneos deixarem aflorar seu patriotismo e exacerbá-lo sem limites. Que bom, se soubéssemos estocar parte desta vasta energia para exercer, com mais vontade e determinação, nosso direito a um futuro, em 3 de outubro. Mas, até lá, sendo hexacampeões ou não, o clima já terá esfriado – o futebolístico, já que será primavera e o calor se fará sentir, no termômetro e na campanha eleitoral, que promete...

Os brasileiros temos um grave problema, que vem-se arraigando, infelizmente. Trata-se de uma certa vergonha do nosso patriotismo e, a reboque dele, do nosso poder de transformar o país. Culpa dos anos de regime de exceção, porém não diretamente do militarismo, mas daqueles que, por sua visão curta e ausência de princípios morais, deram causa ao movimento de reorganização política que se fez necessário àquela época.

Os ampla, geral e irrestritamente anistiados, exilados ou auto-banidos, muitos dos quais hoje no poder, regurgitando ódio e revanchismo, são, a meu ver, os culpados disso. Porque, num primeiro momento, 'perseguidos' eles acusavam todos que exaltassem os símbolos nacionais – a bandeira e o hino, mormente – de serem simpatizantes do autoritarismo (mais do que do governo). E depois, repatriados, passaram a usurpar esses mesmos símbolos como se fossem propriedade exclusiva sua, já que autoproclamavam-se os verdadeiros patriotas.

Então, tivemos uma vergonha inicial da pecha de 'alienados políticos que coadunavam com o poder', na forma como os 'injustiçados' preferiam dizer, para, em seguida, emendar uma vergonha posterior, certamente maior do que a primeira, de sermos iguais a eles, que enxergamos como párias. E deixamos a bandeira nacional e as margens plácidas do Ipiranga para alguns poucos momentos, como o campeonato mundial de futebol. Uma lástima. Contudo também um estado de coisas que não podemos perpetuar.

Precisamos levantar a cabeça, não somente para vibrar com os gols da seleção canarinho, mas também para perceber quão grande somos, como povo e como nação. Que temos muito trabalho a fazer, para pôr o Brasil em ordem, buscando nosso bem-estar e cobrando dignidade dos homens públicos, na administração daquilo que é nosso – deles, inclusive. Sem que nos esqueçamos de praticar essa mesma dignidade, nos nossos menores atos do dia-a-dia.

Precisamos ter consciência de que vivemos tempos perigosos, em termos de ameaça de violação das liberdades que nos custaram tanto sofrimento. Que há inúmeros aproveitadores, lobos em pele de cordeiro, que falam de democracia, direitos, benesses e outras coisas mais, embora estejam tramando, nas alcovas e catacumbas, um golpe tenebroso contra o país. Uma trama especialmente perigosa, por conter um sentimento latente de vingança, ora já indisfarçável, que vem escorrendo por entre os lábios da campanha eleitoral da situação.

Precisamos alijar do poder aqueles que se querem nele perpetuar, freando a máquina corruptora que lhes tem garantido recursos sempre abundantes e com a qual vêm comprando, a preço de saldão, a tudo e a todos.

Precisamos acordar do sonho do Brasil grande, bonito, que muito acalentamos mas que deixamos sempre para depois, para arregaçar as mangas e fazê-lo acontecer de fato, agora! Tanto quanto é urgente despertar do pesadelo do brasil (minúsculo) corrupto, que vem gradualmente lançando seus tentáculos a partir do planalto central, acuando nossos homens de bem, calando nossos gritos de angústia e sepultando precoce e cruelmente nossa esperança de futuro.


Bons Dias!