P Á G I N A S

terça-feira, 14 de outubro de 2008

O tamanho do nosso mundo


Suburbano: indivíduo que vive num subúrbio ou é natural dele; subúrbio: localidade próxima de uma cidade e que depende dela. Assim define o dicionário. No Rio de Janeiro, bairro tipicamente da Zona Norte, simples mas não necessariamente pobre, de casario baixo e gente que gosta de pôr a conversa em dia sentada em cadeiras de armar, na calçada, à porta de casa.

De repente, esse jeito suburbano tão carioca de viver virou arma de ataque de campanha, eivada de preconceito, vociferada pelo candidato Paes como se houvesse sido proferida por seu oponente com sentido pejorativo, exatamente em relação àqueles que a expressão define. Tipicamente artimanha estéril de quem parece não ter assuntos a discutir nem propostas a apresentar.

Este episódio é bem ilustrativo do antagonismo ideológico que as campanhas de Fernando Gabeira e Eduardo Paes mostram a seus eleitores. O cidadão do mundo, que vê o Rio de Janeiro como uma cidade também do mundo, grandiosa; e o síndico, sem demérito à função em si, cujos horizontes se restringem ao universo daquilo de que se propôs a tomar conta.

Talvez seja esta comparação a mais importante em que pensarmos, quando da decisão final do dia 26 de outubro. O tamanho do administrador que queremos para a nossa cidade.

Gabeira ousou tratar de 'desfavelização', tal como consta no portal oficial do candidato. Um tema tão delicado quanto necessário de abordagem, dada a notória relação da favela com a criminalidade e consideradas, também, as proporções que o problema atingiu nas últimas décadas. Falou ainda, no rádio e com a pertinente brevidade, da infância difícil e sem recursos, enfatizando que condena a glamourização da pobreza – uma tônica tão freqüente na propaganda eleitoral.

Por seu lado, Paes renega e renega seu padrinho Cesar Maia, com uma veemência e uma artificialidade que irritam o mais tibetano dos monges, escudando-se nos feitos de seu novo protetor, Sérgio Cabral, e esperando os votos que imagina ter com o apoio de Lula e da aliança de colcha de retalhos que vem sendo emendada dia a dia.

E vamos ver no que dão as pesquisas que vêm por aí, esta semana.


Boas Tardes!

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Depois dos apoios, depois do debate


Curiosa, a manifestação de apoio da candidata derrotada Jandira Feghali a Eduardo Paes, neste segundo turno de 2008 para prefeito do Rio. A ardorosa defensora do prestígio e da dignidade dos médicos – no que ela, como membro da classe, age como esperado – pode vir a ver-se na constrangedora situação de dividir o palanque com o destemperado governador Sérgio Cabral. Ninguém (ninguém?) esquece a bravata de Sua Excelência, perturbado com o absenteísmo de médicos no plantão do Hospital Getúlio Vargas, na Penha, semanas atrás e em plena campanha, chamando os faltosos de 'vagabundos' e 'safados'.

(Consta que o sindicato dos médicos vinha levantando as faltas do governador às sessões plenárias do Senado Federal, onde Cabral atuava antes de assumir o governo fluminense e supunha-se que ele estivesse defendendo os interesses do Estado do Rio de Janeiro. Para dar um troco.)

Fato é que o candidato do PMDB parece não ter-se saído muito bem em seu novo confronto de idéias com Fernando Gabeira, no segundo debate depois de 5 de outubro e já com as pesquisas invertendo a tendência de votos. Na opinião dos leitores do Globo, tanto no evento do próprio jornal, há uma semana, quanto ontem, na TV Bandeirantes, Canal 7, o candidato do PV teria tido desempenho muito melhor do que Paes, na proporção de quase 80% contra menos de 20%.

Senões há, de minha parte, a um e ao outro candidatos. Mas o anseio de mudança por parte dos cariocas e a irrefreável vinculação que Eduardo Paes faz de sua imagem a Sérgio Cabral e a Lula, à beira de sugerir que ele seja, em vez de candidato, cabo eleitoral de um dos outros dois, vêm desgastando paulatinamente a sua própria imagem. Até pela insistência de que seja preciso ser amiguinho do governador e do presidente da República, para garantir recursos à cidade.

O Rio de Janeiro nunca foi subserviente ao poder central (leia-se Brasília), motivo pelo qual tantas vezes, foi prejudicado por quem o comandava. Contudo, o que se deve esperar do novo prefeito é, ao contrário de uma política de boa vizinhança que aproxima-se da bajulação, uma postura de independência, que reflita a autoridade que a cidade mais importante do Brasil e o seu administrador verdadeiramente possuem.


Bons Dias!