P Á G I N A S

terça-feira, 6 de março de 2012

Por que tenho horror à esquerda - parte 2


A esquerda vive do passado. Seja da falsa glória do comunismo opressor, a ditadura em que era proibido até pensar, seja pelo deleite do permanente gosto de sangue na boca, que propõe rasgar a Lei da Anistia e violar as sepulturas do tempo, fazendo da busca por 'torturadores' uma caça às bruxas, nos mesmos moldes daquela que os 'injustiçados' acusam os governos militares de terem empreendido contra si, há quase meio século.

E não falta quem se ponha a serviço da causa do revanchismo. Está para acontecer esta semana, precisamente na sexta 9, a proposição de uma ação, por um dos 60 subprocuradores-gerais da República, para apurar cinco crimes cometidos durante o regime militar. Crimes provavelmente todos atribuídos ao Estado, já que não se veem iniciativas semelhantes em relação a ilícitos cometidos pelos 'defensores da democracia' de então.


No mais flagrante atropelo da Lei da Anistia, que o Supremo Tribunal Federal - a corte máxima do país - entende ter encerrado todas essas questões, a subprocuradora-geral Raquel Dodge e outros procuradores de várias regiões do Brasil sustentam que, nesses casos específicos, houve crime continuado, que ainda não se encerrou, situação que envolve desaparecimento forçado, ocultação de cadáver e formação de quadrilha, esta com o intuito de ocultar informações sobre os dois outros crimes. Por trás dessa interpretação está o 'Grupo de Trabalho de Justiça de Transição', formado na Segunda Vara do Ministério Público Federal com o objetivo de dirimir dúvidas pendentes em função de termos migrado de um governo de exceção para um regime democrático de direito.

Nossa jovem democracia pós-1964 nasceu, entre outras circunstâncias, da tolerância mútua que permitiu a anistia tornada lei em 1979 e referendada, por diversas ocasiões, pelo STF. Essa anistia, lembre-se muito bem, é bilateral, embora este aspecto pareça não agradar a uma legião de revanchistas, que tem se valido do poder - democraticamente conquistado - para exercer a insaciável gana de perseguir. Uma mesma legião que estruturou a 'Comissão da Verdade' - 'da verdade' mas talvez não 'de verdade' - para que não fossem objeto de revisão os seus próprios 'malfeitos' - aqui aproveitando a expressão carinhosa com que a presidente da República se refere aos delitos cometidos por seus aliados políticos e companheiros de guerrilha.

Existe uma sutil diferença entre esquecer e não lembrar. Enquanto esquecer é simplesmente apagar o registro, não lembrar é mantê-lo vivo, guardado, porém como lição, não como uma arma engatilhada, pronta para disparar contra tudo e contra todos, ao bel-prazer de quem possa se sentir particularmente incomodado. A Lei da Anistia não esquece. Ela apenas determina que não se lembre. Porque foi esse o combinado. Porque foi isso que os próprios 'perseguidos políticos' demandaram. Porque está escrito e ponto final. O perdão mútuo foi decretado e foi aceito, por vencedores e vencidos. Foi o armistício - que parecia - definitivo, negociado para encerrar uma verdadeira guerra. Selou-se uma paz que não deve ser quebrada.

A esquerda vive no passado. Eu prefiro viver com os pés no presente e os olhos no futuro, mantendo o que passou como aprendizado e referência de consulta para analisar os acontecimentos que se me apresentam. O que não significa que eu perca o passado de vista: apenas me limito a não quebrar as regras ditadas pelo tempo, que cuidou de estabelecer que seu lugar é no ontem, não no hoje. E o ontem não se repete; na pior das hipóteses, o que pode surgir é uma cópia bisonha, forjada por aqueles que não se conformam com o fato de que a noite se foi e o dia amanheceu.

Boas Tardes!
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