P Á G I N A S

domingo, 26 de setembro de 2021

Wellington segue resistindo. E nós, também

A indiferença da extrema imprensa diante do drama do jornalista Wellington Macedo chega às raias do criminoso. Começa pela tentativa de diminuí-lo como profissional, chamando-o de 'blogueiro', como se blogueiros não pudessem ser sérios (há vários!) e jornalistas, desonestos (há incontáveis!). E mais até do que blogueiro: Macedo é, para eles, um 'blogueiro bolsonarista', como se a vinculação de sua imagem ao Presidente da República fosse algo reprovável.

O agravante do fazerem de conta que não o conhecem é que Wellington Macedo é um preso político, em greve de fome há 23 dias, em protesto por sua prisão ilegal, decretada por Alexandre de Moraes, a vedete mais pornográfica do lupanar instalado no extremo sul da Praça dos Três Poderes. Nem um pio da parte dos jornalistas. Nem um pio da parte dos demais ministros da suprema corte. Nem um pio da parte da OAB. Nem um pio da parte dos ativistas dos direitos humanos. Silêncio absoluto, em cumplicidade com o abuso do qual muitos dos próprios silentes poderão ser as vítimas, no futuro.

Tanto o STF quanto a grande mídia poderiam se isentar diante da eventual morte do jornalista, pela extenuação voluntária de suas próprias forças, alegando que a greve de fome é uma prerrogativa dele. Realmente é. E a cortina ideológica camufla essa cegueira conveniente com bastante eficiência. Mas uma pessoa só se vê capaz de uma atitude tão extrema quando é movida pela força do seu caráter, já que está numa situação de injustiça cabal e se imagina sem outro recurso para rechaçar a covardia contra si.

Caráter, um conceito que, por sinal, não tem frequentado as dependências dos tribunais nem as redações dos periódicos.

Essa postura 'não é comigo', que a militância jornalística vem adotando, tem me feito refletir quanto à veracidade do que se tem noticiado nos últimos tempos. Afinal, desdenhar e desprezar podem encerrar a mesma gênese ideológica de inventar e deturpar. Se Wellington Macedo 'não é jornalista', 'não está sob perigo de vida' e 'não é preso político', eu me permito pôr em xeque: será que Wladimir Herzog 'foi morto numa simulação de enforcamento'? Ou será que Stuart Angel 'foi torturado nas dependências de um quartel'?

Ah, mas a Comissão da Verdade... Da 'verdade'? É mesmo? De que verdade?

A verdade tem sido relativizada no âmbito do jornalismo, não é de hoje. E as redes sociais, abertas à participação de todos e qualquer um no debate dos acontecimentos, têm permitido uma apuração dos fatos mais profunda do que aquela que os jornalistas tinham como privilégio seu.

E, então, a verdade passou a ser discutível, no sentido de que tornou-se contestável o monopólio dos meios de comunicação em relação à notícia. Deixou de pertencer a donos específicos para se fazer visível ao cidadão comum, capaz de percebê-la e registrá-la por si mesmo e oferecendo a sua avaliação a todos. A hegemonia da imprensa como contadora de histórias foi comprometida por ela mesma, quando passou a vender mais do que anúncios e assinaturas e pôs preço em sua dignidade.

Há sangue nas togas das supremas criaturas que pairam, como espadas assassinas, sobre o Brasil, na Praça dos Três Poderes. Há sangue, também, nos teclados de garotos e garotas de programa que militam nas redações da grande imprensa. Se o Jornalista Wellington Macedo sucumbir ao cárcere, poderá sobrar mais do que remorsos, para os abutres de plantão.

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