P Á G I N A S

domingo, 25 de abril de 2010

Chifre em cabeça de porco


Para guardar e lembrar, quando se estiver teclando o voto no dia 3 de outubro. A coordenação de campanha do Partido dos Trabalhadores (candidata Dilma Rousseff) e a alta direção do PT pressionaram a Rede Globo de Televisão a tirar do ar a peça publicitária comemorativa de seus 45 Anos, que se festejam nesta segunda-feira (26). Feita bem no estilo petista, a pressão deu-se por meio de postagens terroristas em blogues, iniciadas pelo coordenador de internet da campanha de Dilma, Marcelo Branco. Ele, motivando depois outras manifestações de simpatizantes da candidata e de pessoas ligadas ao partido, denuncia que a alusão ao número 45 (que é o registro do PSDB no TSE), e à mensagem com a tônica 'queremos mais' (acusada de semelhante a 'O Brasil pode mais', mote da campanha de José Serra, adversário de Dilma à presidência) constituiriam propaganda subliminar do candidato tucano.

Para não criar polêmica, a Globo decidiu suspender sua campanha publicitária - criada em novembro de 2009, antes de qualquer definição sobre candidaturas e slogans de campanha - logo na terça-feira passada (20), um dia depois de iniciada a veiculação. A cúpula do partido teria ligado para a alta direção da emissora para reclamar, segundo apurou a Folha de São Paulo.

Depois da divulgação da nota da Rede Globo comunicando a suspensão e quando questionado acerca das acusações, Marcelo Branco baixou o tom e desconversou, alegando que não poderia ser taxativo quanto às denúncias que fez e que estaria 'apenas' disseminando informações de que 'várias pessoas' estavam dizendo aquilo.

A Globo, infelizmente, preferiu deixar-se censurar. Curioso é o denunciante não lembrar, isto sim, o longametragem 'Lula, o filho do Brasil', previsto para ser exibido em caminhões-cinema pelo país neste ano de eleições, como descarada campanha em prol da candidata petista, apoiada no sentimentalismo suscitado pela história (maquiada) do padrinho, que insiste em lançar seu nome aos quatro ventos em qualquer inauguração de bica d'água. O filme é produzido com a ajuda de recursos oficiais.

No desespero da perspectiva da perda do poder, com Dilma Rousseff comportando-se extremamente mal em entrevistas e aparições em público, o PT resolve enxergar chifre em cabeça de porco e recorrer àquilo que vem apregoando há tempos em seu modus governandi: a censura indiscriminada, travestida de acompanhamento editorial de cunho democrático, especialmente quando as informações que circulam afetam, de algum modo, seus interesses. Pena que os que tanto gostam de lembrar os 20 anos pós-1964 como ditadura não consigam associar, por ignorância ou conveniência, as ações do partido-governo com o tipo de governo-partido que os petistas pretendem para o Brasil.


Bons Dias!

quinta-feira, 18 de março de 2010

O novo golpe de Ibsen


Inconformado com a repercussão da passeata de ontem (17), em que mais de 150 mil pessoas protestaram contra a Proposta de Emenda à Constituição que nega ao Estado do Rio o recebimento dos royalties do petróleo, o deputado Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) segue em sua verborragia. Sem esconder o sorriso irônico, desdenhou a manifestação desta quarta-feira, dizendo que 'nem toda a passeata é do bem'. Sustentou o argumento, lembrando o apoio da população carioca à tomada do poder pelos militares em 1964; e o protesto contra a vacinação obrigatória, comandada por Oswaldo Cruz em 1904 na então capital federal. Está tentando pôr fim à polêmica valendo-se, de modo ardiloso, da menção ao controverso episódio da repressão dos anos 60, acreditando num impasse: para ser contra-atacado na referência a uma pretensa 'passeata do mal', é preciso defender o 'golpe', coisa que poucos teriam coragem de fazer. Misturou, enfim, alhos com bugalhos e cometeu uma nova injustiça, revelando-se cafajeste com os cariocas – o Rio tem sido, historicamente, palco de grandiosos atos em defesa do país – e com as Forças Armadas.

A Revolta da Vacina aconteceu em função do desconhecimento e do temor da população do início do século XX, que foram insuflados pela imprensa da época, também contrária à iniciativa. Não demorou muito para que os jornais fizessem sua mea culpa, admitindo a absoluta impropriedade de se voltarem contra as medidas profiláticas adotadas pelo sanitarista.

A intervenção militar de 1964, tratada tanto como 'revolução' (pelos que a apoiaram) quanto por 'golpe' (pelos adversários), foi festejada, assim que consumada, pela maioria da população do Rio de Janeiro. Jornais e revistas, que vinham acompanhando a degeneração da democracia brasileira desde a renúncia de Jânio Quadros, em 1961, documentaram a gradativa perda da autoridade do presidente João Goulart (Jango), cuja inabilidade política, aliada à insuflação generalizada contra a ordem constituída, promovida por setores da esquerda, estava por permitir a transformação do Brasil numa república comunista. Insuflação essa, registre-se, perpetrada por nomes que ficaram para a história recente do país como grandes socialistas, defensores do estado democrático de direito e, sobretudo, pobres vítimas da arbitrariedade e da intolerância do governo, alijadas de seus direitos cidadãos.

Foi em nome da restauração da ordem e da preservação dos valores mais caros ao povo brasileiro, que as pessoas estenderam lençóis brancos em suas janelas, jogaram papel picado às ruas e promoveram um verdadeiro carnaval fora de época, na virada chuvosa de 31 de março para 1º de abril de 1964. A tomada do poder, naquele momento específico, era absolutamente necessária para conter o avanço da influência trotskista no Brasil, e salvaguardar instituições cujas bases vinham sendo solapadas por um processo daninho de insurgência. Entre elas, parte das próprias Forças Armadas.

Hoje, o deputado, que tem em seu currículo o voto casuístico a favor da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, o imposto do cheque), quer beneficiar-se eleitoralmente à custa do trabalhador fluminense, lesando o Estado do Rio em recursos que são seus por direito, garantidos pela Constituição que agora faz rasgar. Quer fazer nítida cortesia com o chapéu alheio, sob o pretexto de estabelecer justiça fiscal e redistribuição de riqueza.

Se juntarmos a isso a postura pilática de Lula, que – mais uma vez – esquivou-se de agir e mandou o Congresso resolver o babado dos royalties, vamos perceber que Ibsen vai, homeopaticamente, fazendo o favor de demolir a candidatura governista à presidência.


Boas Noites!

quarta-feira, 17 de março de 2010

Obrigado, Ibsen


O tiro contra o Estado do Rio, desferido do planalto central pelo deputado Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), parece ter saído pela culatra e ricocheteado várias vezes, com efeitos surpreendentes. Pior a emenda que o soneto, para lembrar o dito popular. Sua Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que subtrai dos fluminenses recursos substanciais, oriundos do pagamento de royalties pela exploração do petróleo existente na Bacia de Campos, é a unanimidade – ou quase isso – da vez. Iniciativa oportunista, surgida do nada em pleno ano eleitoral, até hoje não encontrou, além do próprio proponente, defensores entusiásticos: há os que são visceralmente contra, os que são apenas contrários e os que preferem se omitir a respeito, alegando não terem opinião. Não vi quem quer que seja esbravejando, com a ênfase com que o governador Sérgio Cabral atacou a emenda, a favor dessa nova sandice.

Os políticos brasileiros em geral, em sua imensa pequeneza, tendem à fórmula simples de Robin Hood. Atacam os ricos, como se pecado fosse sê-lo, para arrancar deles o 'excedente' que acham que deveria ser dividido com os pobres, em vez de proporem a criação de novas riquezas, capazes de tornar os pobres não-pobres, mantendo os ricos como estão. Porque dividir o que não lhes pertence é mais fácil, além de render preciosos dividendos nas urnas.

E nesse jogo de perder ou perder, nós, cariocas, somos escolados. Há quase um século e meio. Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, gaúcho que fez história no Rio de Janeiro, nos dá, talvez, a primeira boa mostra disso. Penou para trazer desenvolvimento para o Brasil e, em especial, para a capital do império, tendo sido severa e seguidamente sabotado pelo ciúme do próprio imperador, que talvez se visse diminuído ante a audácia das iniciativas de Mauá. O barão fundou o primeiro Banco do Brasil (que era privado e faliu, sabotado por manobras tramadas na corte de Dom Pedro II), o primeiro estaleiro (Ponta d'Areia, na vizinha Niterói) e a companhia de gás (cujo uso, inicialmente, voltava-se para a iluminação pública), só para começar. Um vulto que deveria ser cultuado por todo brasileiro, como exemplo de patriotismo e empreendedorismo.

Nossa Majestade preocupava-se muito mais em agradar os senhores de engenho do interior fluminense, que lhe sustentavam – literalmente – o poder, promovendo um término mal planejado para a era escravagista, sem a necessária transição dos antigos escravos para a condição de cidadãos com formação profissional, emprego, salário e moradia. Esse despreparo, apesar dos 38 anos entre a proibição do comércio de negros e a Lei Áurea, que permitiam muito mais do que as leis do Ventre Livre e dos Sexagenários, custou a sobrevivência do regime, que caiu um ano e meio depois. A República vinha com o Estado do Rio assistindo ao declínio de seus engenhos sem escravos, e São Paulo fomentando suas lavouras com mão-de-obra estrangeira assalariada.

Fomos perder, de novo, em 1960. A mudança da capital para Brasília, sob o pretexto de interiorizar o Brasil, foi uma punhalada que, até hoje, 50 anos depois, ainda dói nas costas dos cariocas. Só não nos avisaram que a transferência era também para escamotear a corrupção – que daria muito na vista no Catete, na Cinelândia e na Praça Quinze – e propiciar o surgimento de novos ricos, financiados pelo fornecimento de bens e serviços para a construção de um novo mundo a toque de caixa (registradora?).

Em 1975, foi a fusão. O casamento forçado entre a menina rica (a Guanabara, cidade-estado em que se transformara o Rio de Janeiro) e o fazendeiro pobre (o antigo Estado do Rio, capital Niterói, cuja herança política, bem maldita, vimos carregando nesses 35 anos), com mais perda de prestígio político e de recursos financeiros. Mesmo com o advento do petróleo, já que havia uma receita de impostos estaduais que a atual capital não dividia com ninguém.

Vem então o conterrâneo de Getúlio, para vilipendiar mais um pouco, a título de ser o bom velhinho de milhões de brasileiros, agraciados com o fruto do trabalho de muitos de nós e dos impactos ambientais que se dão bem longe do espelho d'água do Congresso Nacional. Curiosamente, não se propôs dividir a riqueza dos minérios produzidos em Minas Gerais ou no Pará; nem as benesses da indústria automobilística de São Paulo. Mas querem meter a mão no petróleo do Estado do Rio...

E sabe o que mais? Vamos, enfim, ao que de bom essa história pode oferecer. A Emenda Ibsen conseguiu uma união improvável, de forças, na intrincada malha eleitoral fluminense. Trouxe Rosinha Matheus, ex-governadora e mulher do também ex, Garotinho, para apoiar Sérgio Cabral. Garotinho e Cabral são virtuais concorrentes ao governo do estado em outubro, quando o atual governador tenta a reeleição, e não mantêm relação de cordialidade. Apesar disso, Rosinha e Cabral deram-se as mãos na Avenida Rio Branco, na passeata que reuniu cerca de 150 mil pessoas, debaixo de chuva forte, 'contra a covardia' – como os organizadores chamaram a marcha.

Viam-se bandeiras de vários partidos na manifestação: PMDB, o dono da bola, partido do governador; PSDB, PDT, PV e PC do B, entre outras. Mas uma ausência chamava a atenção: nenhuma bandeira do PT e nenhum militante com a estrela vermelha. A UNE, por sua vez, tão bem domesticada por Lula nos últimos 8 anos, providenciou um bandeirão (na verdade, nem tão 'ão' assim), para não dizer que deixou de comparecer. Mas sem as bravatas e histrionismos de costume. Essas ausências (pode-se, tecnicamente, incluir aí a União Nacional dos Estudantes) são, na verdade, uma clara postura de omissão. O não tomar partido, para não se comprometer.

E como não? Por que será que, em meio a essa crise dos royalties, com uma possibilidade de decisão em vias de cair em seu colo, Lula terá tirado da cartola um importante conclave diplomático na República da Conchinchina? A postura de avestruz haverá de ser um tiro no pé, certeiro, na boca de começar a já começada campanha de Dilma Rousseff à presidência. Com Serra tirando enorme proveito do fato, rompendo o silêncio e saindo em defesa do Rio e do Espírito Santo, reforçando a tese da quebra dos dois estados sem os recursos que querem tungar.

Por tudo isso, como carioca que ama e preza a terra, resta-me sugerir ao deputado Ibsen Pinheiro uma reflexão sobre uma pequena frase, curiosamente o lema do Estado do Rio de Janeiro, escrito na bandeira do RJ: 'administrar a coisa pública com retidão' – 'recte rempublicam gerere', como está lá, em latim.

E agradecer-lhe, pelo belíssimo estrago que ele está ajudando a consumar, em coisas que vêm mesmo demandando serem destruídas.


Boas Noites!

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O teatro político: chorar, rir e assistir a velhas peças


Não sei se rio do drama ou choro, pela comédia. Alguém viu a nova dupla sertaneja Ciro e Dilma, distribuindo sorrisos na caravana do PAC pelo nordeste, esta semana? Ambos foram a reboque de Lula, a visitarem as obras de transposição do Velho Chico. Dizem, aliás, línguas que não sei se más ou boas, que nossa excelência gosta mesmo é de outro velho... O Barreiro. (Até a garrafa é coisa fina, lembra o slogan.)

Falando nele, o 'filho do Brasil' (será 'do Brasil' mesmo?) aguarda, ainda, o lançamendo – em 2010 – do filme que conta sua biografia. Forte concorrente aos prêmios de melhor roteiro, com uma lacrimejante história de agradar o gosto do público mais popular; melhores efeitos especiais, de uma pirotecnia caprichada para um ano de eleições presidenciais; e melhor edição, primorosa, competente o bastante para deixar os escândalos sem holofotes e, seguindo a linha de conduta do protagonista, debaixo do tapete – qualquer tapete, até o vermelho. A respeito disso, vale ler o artigo de Solange Amaral no sítio do Democratas, em que a deputada ainda menciona o 'Vale Cultura' e suas implicações na divulgação da película.

...

E Alexandre Cardoso, federal da bancada fluminense, apresentando Romário, o mais novo filiado do Partido Socialista Brasileiro, alguém, por acaso, viu? O 'peixe', que parecia bem fora d'água, assinou ficha em 23 de setembro, inaugurando a primavera. Essa semana, foram veiculados anúncios curtos na programação noturna da televisão mostrando a filiação. Neles, o jogador manifesta o seu desejo, genérico, de 'ajudar as pessoas': todos os pollíticos dizem isso, mas sem especificar a que pessoas, especificamente, se referem. E Cardoso enfatiza que o Brasil está 'carente de ídolos', olhando para ele.

Tenham a santa paciência! Por enquanto, o portal do PSB identifica Romário apenas como 'militante', mas corremos o sério risco de tê-lo como candidato, em breve. Acho que aqui, o que eu faço é chorar. De puríssimo desgosto, ao prever o pior: o cara pode emplacar como alguma coisa, qualquer coisa, graças ao seu carisma. Em especial junto a um público eleitor não muito esclarecido e, exatamente por isso, facilmente influenciável pelo apelo de 'marketing' do baixinho.

Pois é.


Boas Tardes!

domingo, 29 de março de 2009

Golpe de sorte


Quarenta e cinco anos de história. Num dia 31 de março - há quem insista ter sido em 1º de abril, o Dia da Mentira - o Brasil espantou-se com a reação de seu povo e de suas Forças Armadas à tentativa de transformá-lo num país menor: de menos liberdade, de menos consciência política, de menos cidadania. Há muitos que viram na tomada do poder pelos militares, em regime de exceção, um ato pernicioso, tramado exatamente contra a liberdade e a cidadania, como uma afronta à consciência política que esses muitos julgavam ter. E é a forma como a história tem sido contada por eles. Os historiadores têm sido aqueles que foram atingidos, voluntária ou involuntariamente, pelas novas regras que o momento exigia então.

Talvez não haja um brasileiro sequer que não tenha em sua família ou no seu círculo de amizades um perseguido, preso ou exilado. Houve uma caçada implacável àqueles que os novos detentores do poder julgavam perigosos ao próprio governo e, no seu modo de ver, ao Brasil em si. Excessos aconteceram. Erros foram cometidos. Falhas houve, algumas graves, num sistema de grandes proporções cujo propósito era tão somente preservar um grande país, para garantir-lhe não um futuro, mas o futuro.

Contudo, um aspecto importante precisa ser lembrado a todo momento. Um sustentáculo que jamais poderá ser esquecido, seja pelas gerações que viveram 1964, seja pelos nossos filhos, a quem nos obrigamos a ensinar os fatos de modo imparcial e absolutamente responsável. Pouquíssimas - pouquíssimas mesmo - instituições nacionais podem provar tanto respeito, lisura e retidão de caráter para consigo mesmas e para com o Brasil, como as Forças Armadas. Bradem o que quiserem contra os militares: clamores pertinentes por justiça ou simples alaridos eivados de preconceito e rancor. Mas que não se ouse levantar uma única palavra de ataque à dignidade das corporações que a integram. Porque seria uma injustiça sem precedentes.

Maus profissionais há em todas as classes sociais e profissionais, mas não são eles o espelho em que seus membros se veem, nem a imagem que reflete honestamente sua condição. Ao contrário do que parece ter ocorrido com a maioria dos que pegaram em armas contra os militares, estes sofreram com a necessidade de se verem compelidos a irem de encontro a compatriotas seus. Porque tinham algo maior a defender: sua pátria. Nossa; de militares, de brasileiros e dos que cerravam punhos sem ideal bem definido. Pátria: um conceito que decerto não era compartilhado por uns tantos perseguidos, que professavam uma fé política quente, de forte tom avermelhado - alguns o fazem até hoje - e com inusitado fervor.

Até a deflagração da abertura política, em 1979, a história, contada pelos vencedores, era a versão do 'regime'. Depois disso, com o retorno dos exilados e autoexilados e com a 'constituição cidadã' de 1988, é deles, dos ex-perseguidos, a verdade absoluta dos fatos. Deles também é o direito de pleitear - e receber - as mais gordas indenizações de caráter político já pagas no Brasil, como reconhecimento por seus 'feitos heróicos' em prol da 'liberdade' e todo sofrimento que sua consumação pôde encerrar. O 'bolsa-ditadura', que tão bem foi definido pelo próprio povo. Um achincalhe a cada um de nós e, em especial, àqueles que trabalharam silenciosamente pela paz.

Se ainda é cedo para se falar sem emoções sobre tudo o que aconteceu no Brasil nos anos pós-1964, já deveria ser ao menos tempo suficiente para desnudar a máscara de vivos e mortos que ousaram se autoproclamar heróis de alguma coisa. E fazer baixar um pouco mais a poeira dos conflitos, revelando silhuetas mais bem delineadas por entre a natural bruma do passado. Fazendo, assim, justiça a quem a mereça. E condenando, minimamente ao limbo da História, aqueles que tentaram toscamente rasurá-la.

A verdade sempre prevalece. Mesmo que por puro golpe de sorte.


Boas Noites!

Pela luz dos olhos teus


A crise - a de decência, vivida pelo Brasil muito em função de seus homens públicos - é culpa de um pau de arara, pinguço, cotó e ignorante. Calma, que esse estilo não é meu! Só estou tentando definir Luís Inácio da Silva, o grande líder 'deste país', segundo o jeito de pensar e falar de si mesmo. Um logorreico que não mede o que diz, lançando suas palavras a microfones e holofotes como balas perdidas, iguais às que vêm assustando e matando nestes difíceis tempos, no Rio de Janeiro.

Fico imaginando se a crise econômica dessa temporada tivesse sido causada predominantemente por incompetência de instituições financeiras asiáticas, por exemplo. Nesse cenário, é provável que nossa excelência falasse de um 'perigo amarelo' assolando o planeta. Mas, se fossem pujantes conglomerados bancários africanos os responsáveis pelo caos instaurado, Lula, no auge de sua sensibilidade, talvez houvesse culpado os 'crioulos de cabelo ruim'. Ou não, já que, para ele, não existem banqueiros negros.

Acho que a tal 'hora do planeta', em que boa parte do mundo pôs-se às escuras, também aconteceu - mais uma vez - dentro do cérebro do nosso grande líder. Atacando indiscriminadamente os europeus e descendentes diretos, que se encaixam bem na definição de 'louros de olhos azuis', o presidente da República (nem gosto de me lembrar de que ele é isso...) foi tão preconceituoso quanto a forma como, debochadamente, começa este texto, ao se fazer referência aos nordestinos, dependentes de álcool, amputados e aqueles com baixo nível de escolaridade. Se a brincadeira do primeiro parágrafo, na hipótese de não entendida como tal, parece agressiva, imagine-se o que deve ter sentido o premier inglês Gordon Brown, ao ouvir a pedrada lançada por Lula.

Os assessores do Palhácio do Planalto bem que tentaram desconversar, procurando minimizar a bobagem dita e atribuindo-lhe um sentido diferente daquele que de fato teve e foi a pretensão da fala.

Que saudades eu tenho do Fernando Henrique! De sua postura, de sua figura e do tratamento respeitoso que ele conseguiu obter dos países estrangeiros em relação ao Brasil. Coisas que estão sendo postas a prova - ou a pique - com os desvarios dessa gente que hoje governa o país.

Aliás, falando na 'hora do planeta', não sei bem que tanta culpa devemos, os brasileiros, nos imputar em relação ao aquecimento global, a ponto de apagarmos as luzes por uma hora que seja. Nossa energia é quase toda limpa, proveniente de usinas hidrelétricas que movimentam um recurso natural tão limpo quanto: a água. Os automóveis aqui já usam o álcool hidratado em sua grande maioria, combustível de muito menor impacto no ambiente. Reciclamos mais de 95% das latas de alumínio consumidas, vá lá que menos por consciência ecológica do que por necessidade de sobrevivência. Enfim, estamos longe de ser os vilões da história e nossa contribuição à conta da destruição dos recursos da Natureza é bem menos expressiva do que a de países como os Estados Unidos e a China.

Por sinal, dentro do espírito do 'aqui se faz, aqui se paga', têm sido eles mesmos brindados com muitas das catástrofes 'naturais' recentes, consequências das atitudes de descaso tomadas para com o mundo. Levando outras gentes a reboque, é claro. Mas nós assinamos e respeitamos Kioto; e eles?


Boas Tardes!

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O dia seguinte


O mundo amanheceu de ressaca, nesta quarta-feira. Uma ressaca cívica, pela festa que foi a posse do novo presidente estadunidense, Barack Obama. Por toda a esperança que ele representa, para os Estados Unidos e para o planeta: senão de dias muito melhores, ao menos diferentes do marasmo e da incompetência de seu antecessor. George W. Bush deixa a Casa Branca para entrar para o limbo da História, no rastro do maior atentado terrorista de que se tem notícia - por ora, enquanto os ataques israelenses não tomem proporções mais drásticas - e por mergulhar seu país numa recessão, a pouco mais de quatro meses de sair de cena. Carregando o mundo inteiro a reboque.

A nova primeira dama ostentava uma sóbria elegância, não menos do que o próprio astro principal, dando, até nisso, sinais de que outros tempos estão começando. (Ai, que tristeza, quando me lembro da nossa primeira dama...) Uma mulher que tem sabido pôr-se à altura do homem que conquistou não apenas eleitores, mas admiradores, pela vontade de mudar.

Mas... E a imprensa? Alardeou à exaustão o trunfo de Obama, como 'o primeiro presidente negro dos Estados Unidos', sem especificar se o trunfo era, afinal, ser presidente ou ser negro. Como se ser negro fosse diferente, melhor ou pior do que pessoas de outras origens, uma característica tão excepcional que digna de tamanho destaque. Como se não fôssemos todos, mundo afora, de uma mesma raça: a raça humana. Um ato - que julgo - falho, cometido por toda a mídia.

Enfim, esperam-se coisas boas para o futuro. Não milagres, mas ao menos bom senso. Não, talvez, unanimidade; mas mudanças verdadeiras, que resgatem valores e promovam um convívio mais digno entre povos e nações, uma vez que falamos de uma 'superpotência', como essa mídia gosta de tratar.

Um bom presságio, pois.


Boas Noites!