A ação da Polícia fluminense na última terça-feira, na região que abrange a Penha e outros bairros da Leopoldina, no cumprimento de quase três centenas de mandados judiciais, de prisão e de busca e apreensão, teve um mérito adicional, além do da contenção do domínio do tráfico nas favelas cariocas: pôr a nu - literalmente - o modus operandi do narcoestado vigente no Brasil e, de modo peculiar, no Estado do Rio de Janeiro. O contraponto entre a reação popular nas ruas, aplaudindo o cortejo fúnebre de um dos agentes do BOPE assassinado pelos traficantes, numa justa homenagem aos heróis de 28 de outubro, e o chilique de políticos 'socialistas' (incluindo parlamentares e membros da estrutura administrativa do Executivo federal), ativistas dos direitos 'dos manos' (presença obrigatória na defesa dos fora-da-lei) e ativistas judiciais (leia-se STF e TSE), mostra como a estrutura de poder está comprometida e prostituída, no Brasil.
Uma das primeiras providências de moradores, familiares, colegas de facção e outros personagens da farsa dos corpos, foi recolher cadáveres, inclusive da mata, para onde muitos bandidos correram em fuga, e enfileirá-los numa praça da Vila Cruzeiro, com o intuito de dar uma dimensão da intervenção policial a seu modo. Não, é claro, sem antes preparar o palco, despindo-os das roupas camufladas e dos coletes à prova de balas. Esses 'combatentes', eufemismo cínico que O Globo preferiu usar para nomeá-los, estavam todos vestindo apenas cuecas, para que a cena sugerisse que eram todos integrantes de uma inocente excursão pela floresta, ou, quem sabe, um animado grupo de ornitólogos amadores, ocupados em observar os pássaros ao redor.
O senso de oportunidade aguçado da rapaziada do pó fez também com que se cortassem e, até, mutilassem alguns dos corpos, para fazer crer que os vilipêndios tenham sido produto da violência policial. Conclusões que, como de praxe, a imprensa tirou e disseminou no noticiário, sem o respaldo de exames cadavéricos.
Quanto ao resultado da intervenção policial desta semana, foram apreendidas armas em grande quantidade, a maioria de uso restrito das Forças Armadas, subtraídas de arsenais do Brasil, da Venezuela, do Peru e da Argentina. Outras tantas chegaram ao Rio pela fronteira esgaçada da Amazônia, que deveria estar guarnecida pela Polícia Federal. Por sinal, a mesma PF que, alegando razões operacionais, na prática, deu de ombros para a operação no Rio de Janeiro.
Na manhã desta sexta-feira 31, o governador Cláudio Castro e o Secretário de Polícia Civil, delegado Felipe Curi, forneceram alguns números preliminares da ação das Polícias Civil e Militar. Dos 59 narcoterroristas mortos já identificados, TODOS tinham anotações criminais, além do que 22 eram oriundos de sete outros estados da federação, operando como chefes do tráfico em suas regiões. Isto revela a irresponsabilidade - para ser elegante - da medida do atual presidente do STF, Edson Fachin, de 2020, de proibir a incursão de Policiais nas favelas cariocas. Naquela época, a pandemia foi o pretexto do ex-deputado petista Alessandro Molon, autor do pedido, para o impedimento. Mais de meia década após o fim da pandemência, a medida continua em vigor, sem explicação, o que fez aumentar drasticamente o poderio bélico do tráfico, além de tornar as favelas valhacoutos perfeitos para que a bandidagem de fora se escondesse da Lei.
Também nesta sexta, a Polícia do Ceará impôs derrotas ao tráfico local, com a prisão de criminosos e a apreensão de armas e drogas. Um efeito positivo da operação no Estado do Rio, que mereceu um elogio constrangido do governador cearense Elmano de Freitas, filiado ao PT.
Os dados ainda estão sendo fechados, inclusive para entrega ao onisciente, onipresente e onipotente ministro Alexandre de Moraes, que cobrou satisfações do governo fluminense e vai buscá-las, pessoalmente, na próxima segunda-feira, dia 3. Lula, 'estarrecido', quer 'explicações'. Comissões de direitos humanos dos mais variados vieses e matizes progressistas também as querem. O TSE, por sua vez, saído atônito do sono dos mortos, quer mais: a cassação do governador do RJ, a ser votada em julgamento marcado de afogadilho pela ministra Cármen Lúcia - a dos 213 milhões de pequenos tiranos - para a terça 4, outra iniciativa que brotou, coincidentemente, é claro, depois da ação policial.
Pelo visto, não foram somente as facções entocadas nas favelas que se armaram ferozmente para enfrentar Cláudio Castro.
Hoje, encerrando o mês, é Dia das Bruxas. Elas têm andado soltas por aí e chegaram inclusive a passear, em comitiva, pelos lados da Penha. Vamos ver se, agora, elas aterrorizam o outro lado da força e neutralizam aqueles que sempre impuseram sua vontade pelo medo.
Sem travessuras.