Tomando por pressuposto que as máquinas de apostas hajam retratado a verdade dos fatos, um temor que vem atormentando muitos eleitores, mais intensamente até desde a votação de 2022, intui-se que cariocas e paulistanos decidiram apostar no que tinham de pior, neste pleito. A disputa pelos executivos das maiores cidades do país está tão melancólica, que nem os vencedores estão comemorando. Um espírito quase suicida baixou sobre as urnas, tanto cá como lá.
O Rio reconduziu - para um quarto mandato, desde 2008 - o prefeito de Lula e dos escândalos de corrupção e desvio de dinheiro público da Lava Jato, da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos, para mais um ano e meio de farra. É isso mesmo, esta conta está certa: poucas chances existem de que o Nervosinho não deixe a prefeitura nas mãos do vice, com menos da metade do mandato cumprido, para lançar-se, hoje sem concorrente à vista, ao governo do Estado do Rio, em 2026. Ele jura, pela Rainha Elizaberh mortinha, que não vai fazer isso e que vai até o fim, em 2028. Mas não vai. Vai sair antes. Até seus eleitores sabem disso, embora finjam demência sobre o fato. Há seis anos, a propósito, o Palácio Guanabara eram favas contadas para ele, até que o azarão do quarto lugar lhe passou a perna, no segundo turno.
São Paulo, por sua vez, perdeu-se no terço. Com percentagens bastante próximas de votos entre si, três candidatos caminhavam passo a passo até perto do final da apuração. Mas aí o preferido do Lula se impôs como segundo colocado, rumo ao segundo turno, no lugar de Pablo Marçal, que, acreditava-se, o tiraria da disputa daqui a três semanas. A rica metrópole, que já sofreu nas mãos de Luíza Erundina, Marta Suplicy, João Dória e Fernando Haddad, resolveu pôr a disputa nas mãos de duas figuras: o prefeito sem sal, sem alho, sem tempero e sem cara de prefeito, visionário (ou oportunista) que ganhou o cargo de mão beijada, sendo vice de um candidato com sobrenome famoso e saúde destroçada, que pouco desfrutou sua reeleição; e o notório incitador da violação de propriedades privadas, que conquistou a simpatia da esquerda caviar, aquela de carrão e i-Phone.
Marçal cumpriu um papel, com toda a irresponsabilidade que cometeu: o de bagunçar o coreto do sistema, expondo hipocrisias (não desconhecidas, de fato) e escancarando a perseguição à direita conservadora. A candidatos e eleitores. Pela mídia e pela mais alta - e mais prostituída - corte do judiciário brasileiro. A ferida da ditadura da toga nunca esteve tão à mostra. Apesar dos pesares, devemos um agradecimento a este maluco, pela ousadia e pelo desprendimento.
Se Lula já venceu no Rio e ainda se segura em São Paulo, ao menos até o dia 27, perdeu fragorosamente em um reduto da Baixada Fluminense. Seu amigo Waguinho, prefeito reeleito que tentou emplacar um sobrinho na prefeitura de Belford Roxo, tomou uma lavada de Márcio Canella, logo no primeiro turno. Deputado estadual reeleito e ex-vice-prefeito de Waguinho, com quem já estava rompido em 2022, Canella fez quase o dobro de votos de seu adversário direto.
Para que o Brasil volte à democracia ampla, geral e irrestrita (a esquerda deve se lembrar desse seu mantra, contra os Militares, nos anos 1970), resta-nos uma esperança, bastante viva, para novembro: Donald Trump. O cara não é daqui, não governará no Brasil, mas fará uma enorme diferença para o futuro de Pindorama. O sistema já deve estar começando a tremer.
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